Fui… o 1º Cabo Amanuense nº 262/66, da BA-12,- Bissalanca - destacado na Messe de Ofici-ais da FAP, em Bissau, Mário Serra de Oliveira.
Primeiro: -Maio 67 a Dez. 68, como militar, na Messe de Oficiais da FAP, em Bissau.
Segundo: - Janeiro 69 a Agosto 81, como civil, no Café Restaurante Solmar, Grande Hotel, O Pelicano, O Ninho de Santa Luzia, A Tabanca, Casa Santos, Abel Moreira, José D’Amura e Oásis! E…finalmente, na embaixada dos EUA.
Foto a 8 dias da peluda!...
Nota: Creio ser conveniente esclarecer que, simultaneamente só fazia parte O Ninho, A Tabanca, A Casa Santos, Junto ao Ninho - O Abel Moreira logo a seguir á C.S. (na esquina da Estrada de Antula, Oásis e Zé D´Ámura - estes últimos dois, numa espécie de subaluguer, uma vez que o dono tinha ido a Portugal planear a abertura de uma casa em Matosinhos.
A História da Tabanca é descrita mais adiante e, a Casa Santos, foi-me oferecida por trespasse, quando o António Santos foi ameaçado de morte por um chofer de táxi africano, dentro do meu restaurante, O NINHO - que o acusou de ser “bufo”!...Isto, ainda antes da Independência!...Ele desanimou e decidiu vender-me aquilo por “tuta e meia”!...
Agora, como menciono acima, isto é só e somente um Resumo!...
Estamos em dia de mobilizações – BA-3, Tancos.
Foi ali que tudo começou…após eu ter trocado com um camarada, no dia das mobilizações!...Sem alongar muito, eu não fui atingido e, como tal não fui mobilizado!... Mas, nesse mesmo dia, caminhando por ali pensativo, encarei com um camarada, a chorar pela "querida mãezinha" dele - viúva - sendo ele o único filho. De facto - e não interessa agora dizer porquê - eu até queria ser mobilizado por motivos que explicarei noutra oportunidade, se assim o desejarem saber. Nada de especial mas era e foi um facto. Deste modo, eu ofereci-me para trocar com ele - ele não queria acreditar no que ouvia e, lá se conseguiu mudar o nome e o número na lista de mobilizações.
Desta forma, eu fui para a Guiné em Maio de 1967. Passei á "peluda" em Dez. de 1968 e fiquei a trabalhar lá na Guiné, No Solmar!... Posteriormente, uma longa história de altos e baixos de fartura e miséria, rodeados de amigos e inimigos - alguns bem perigosos mas que, pela minha indomável convicção da razão, consegui vencer todas as tramóias perpetradas contra mim!
Assim chegado á Guiné a 17 de Maio de 1967, e, munido de uma carta de recomendação – que me foi dada pelo meu chefe – Tenente da secção de Justiça da BA-3- Tancos, e após a apresentação da praxe, pedi licença para me deslocar a Bissau onde se encontrava o destinatário da carta. Alferes Piloto Cró, locutor no programa das Forças Armadas.
Fresquinho, acabado de chegar - autêntico periquito - todo engravatado - conforme foto
Naquele calor insuportável, eu e outro camarada que também tinha chagado no mesmo dia...toca a palmilhar a distância até á cidade!...Cerca de 12 quilómetros. Chegados ali cerca do mercado de Bandim – às entradas da cidade, a primeira coisa que fizemos foi tentar “afogar” a sede e, ao mesmo tempo, tentar minimizar o cheiro a catinga, que se fazia sentir!... Ali, chegamos “Á Taberna-Pensão (?) bar do Aníbal!...Duas “bazucas” cada um...e toca a entregar a carta ao Alferes.
Ainda dizem que não há cunhas!
Se não há, como é que eu só dormi uma noite na base?
No dia seguinte fui logo transferido para a Messe de Sargentos da FAP – no chamado chão Papel, na mesma rua onde estava situado uma espécie de “boate”...aparentemente decente mas só isso mesmo – aparentemente - já que, nos bastidores, movimentava-se toda uma espécie de “gado – rachado” não abertamente exposto ao público, mas que… existia, existia!
Estamos na Messe da Sargentos da FAP – Bissau!
Foi ali, que eu fiz a minha primeira “mudança de óleo”!.. Isto é: - o local da mudança do óleo não foi ali mesmo na messe mas lá para os lados da Estrada de Bór – pelo lado de trás da Taberna do Aníbal!...Na messe de Sargentos, tive o meu primeiro problema com um dos nossos e exactamente- te a pessoa que eu fui substituir – cabo como eu, que ia de férias!...
Ora, eu, ainda fresquinho ali, estando a almoçar com uma garrafa de cinzano cheia de vinho… enquanto os cozinheiros locais a comerem arroz e a beber água!... Eu, sentindo pena deles, faço sinal a um deles…do género de perguntar se queria um pouco de vinho!... Ele disse que sim e…eu, deito um bocado de vinho numa chávena de café para lhe dar!... – “Oh diabo que fizeste tu Mário porque… naquele momento, entra o outro e começa a barafustar comigo!
Ameaçou-me – nunca gostei que me ameassem - que ia dizer ao Sargento!... Então eu adiantei-me e já ia direitinho ao Sargento quando este aparece. Expliquei que eu não tinha culpa porque o outro não me tinha elucidado sobre as regras em vigor!
Porra… sabia lá eu como eram a regras?
O Sargento apazigua a coisa e ficou-se por ali. Era boa pessoa o Sargento!... Bem, ali mesmo, pareceu-me a oportunidade de fazer a minha primeira “mudança de óleo” na Guiné que, foi tão cómico tão cómico…que, o melhor é começar pelo princípio.
Bem… o certo é que o pessoal gostou da minha atitude – amiga – e, com o andar do tempo, um deles perguntou-me se eu queria ir “mudar o óleo”!
– “O quê…qué q’ bó na papeia”? - “Então isso pergunta-se a um esfomeado”?
Desta forma…descrevendo o episódio, aquilo da “mudança ao óleo” foi...tão cómico que… eu já dentro do local á espera que a pessoa encarregada de “o mudar” aparecesse… tentei sentar-me - para me descalçar - numa coisa que parecia ser um banco de madeira!...
Era de noite e, de noite todos os gatos são pardos, mesmo que sejam brancos - com uma luzinha “dimm, dimm” (mortiça) assim quase a convidar para o “romance” e, claro, como ali não havia romance nem coisa parecida, devido a que só se tratava de uma “mudança de óleo”, não porque não houvesse óleo mas sim, por aparentar que existia uma espécie de “overflow” – problema que, a não ser tratado, poderia infiltra-se nos ‘pistões’ (?) e passar a ser um caso dos trabalhos!...
O problema foi que, ao tentar sentar-me… aquela coisa que parecia um banco...moveu-se a resmungar “crrô-crrô-crrô” fugindo dali e, eu sem apoio do banco ou do ”crrô-crrô”, estatelei-me de cú no chão!...É que o raio do “banco” era um corricho-suíno… porra!
Voltando um pouco mais atrás e, mais precisamente, ao “Chez Toi”… ali ia toda a espécie de homens “católicos” que até iam á igreja e tudo!...O problema foi quando as mulheres deles – principalmente aquelas que, durante o dia iam às lojas de roupas e, o tipo que as atendia, sabia “da religião” do marido e que “catequista” ele – o marido da outra - andava a cortejar!...
- “Oh diabo...que uma dessas mulheres, esposa de um dos tais...se quis vingar e, já que é assim – pensou ela – “se tu te andas a enrolar com aquela, eu vou-me a enrolar com este”!...Assim, aconteceu a um bom “católico”, técnico de frio... e, até parece que adivinhou o homem ou alguém lhe disse...porque apareceu na hora em que a “cerimónia” estava a meio e, se não fosse a janela estar aberta...- para entrar ar - era uma vez um “fanqueiro” porque meteu tiros e tudo!...
Para aclarar, uma vez que alguns deverão conhecer a “boate” como Gato Negro, o certo é que, antes se chamava “Chés Tio”. O dono era um locutor de rádio cujo nome creio que era Soares Duarte, uma figura avultada cuja mulher não sei se o suportaria em cima, na exclusividade!...
Entretanto… aquilo muda de dono e de nome! “Jamais Chez-toi”
Aquilo passou a chamar-se... Gato Negro, cujo dono era o Chico Fernandes. E, aí, ele foi a Portugal de propósito a contratar gado novo – todas com um “Gato Negro” um pouco mais abaixo do umbigo - Algumas 20, aptas para todo o serviço.
Recordo aqui, já eu com O Ninho de Santa Luzia aberto, principalmente às Sextas- Feiras, me telefonava – sim, tinha telefone naquela ocasião. Podia era não trabalhar mas que tinha, tinha… para um almoço para 22-23, depois das 3 da tarde. A ideia, era tentar afugentar os “mirones”.
QUE INOCÊNCIA A DO CHICO!
O problema era que...havia tantos esfomeados de “carne fresca” – mesmo que besuntada de outros - que até parece que lhes dava o cheiro!...
Então, após já estarem a almoçar...vêem aqueles tipos que só faltava “comerem-nas com os olhos” Ainda tive problemas com alguns...porque se sentavam mesmo em frente da registadora – local do meu trabalho mais assiduamente, e...a comentarem...- ‘olha p’rá quelhas trancas carálho!
(Voltarei a situações similares…mais adiante quando um destes – completamente “apanhado pelo clima”, colocou uma “Pêra de Sopro” em cima do Balcão!... Eu também tinha 24 mas, das outras. Depois… conto).
Claro que eu não permitia provocações directas! O respeitinho era muito bonito e eu tratava de fazer vingar o mesmo!... Enfim...longa estória.
Bem, depois da Messe de Sargentos...fui para a Messe de Oficiais.
Ali, passei talvez os melhores momentos da minha vida, enquanto militar!...Baptismos do vinho e do arroz!... Abotoamentos de ($$$) – que algumas enfermeiras Páras pagavam, pelas refeições que comiam “fora das horas normais”!...Foi ali que o meu coração começava a bater mais apressadamente…cada vez que vinha lá uma tal Rosa – a Bajouda da marmita, descrita num poema nalgum nestas linhas!...O baptismo do vinho já foi noticiado no Blogue do Luis Graça mas, se desejarem poderei repetir. Foi real!..
“Estamos a 24 de Dezembro de 1968 e, “amanhã” é dia da “PELUDA”...
Se quiserem arriscar ouvir, carreguem no símbolo abaixo (espero que funcione) mas...estejam preparados para fugir para longe...ao ouvir a minha voz que, se não fosse quase uma “canafrecha rachada” é porque é isso mesmo!...
Nota: A referência ao Pelundo é em homenagem a um camarada que comentou ter lá estado (eu não estive) e pode ser emendada para qualquer outra localidade desde que façam rimar no fim. Assim, estivesse cada qual onde estivesse, é procurar uma rima para o local!...
“PIRIQUITO”
I
Periquito vai p’ró mato…
Oh-lé-lé-lê-lé...
Que a velhice vai p’rá Metrópole...
Oh-lé-lé-lé-lé...
Eu da Guiné, não estava farto...
Oh-lé-lé-lé-lé...
Quero ir... ‘goss-goss’...
Oh-lé-lé-lé-lé!...
II
A jangada vai p’ró fundo...
Oh-lé-lé-lé-lé...
Se o motor avariar...
Oh-lé-lé-lé-lé...
E eu que venho do Pelundo (Guiné)
Oh-lé-lé-lé-lé...
Á Metrópole não vou chegar...
Oh-lé-lé-lé-lé!...
III
Estou farto desta Guerra...
Oh-lé-lé-lé-lé...
Que não havia de começar...
Oh-lé-lé-lé-lé...
Quero ir p’rá minha terra...
Oh-lé-lé-lé-lé...
P’rá minha noiva beijar!...
Oh-lé-lé-lé-lé...
IV
Estamos todos debaixo de fogo...
Oh-lé-lé-lé-lê´...
Helicóptero tarda a chegar...
Oh-lé-lé-lé-lé...
Estes ‘gaijos’ da Força Aérea...
Oh-lé-lé-lê-lé...
Agem muito devagar...
Oh-lé-lé-lé-lé...
V
S’tamos cercados por todo o lado...
Oh-lé-lé-lé-lé...
O reforço s’tá a tardar...
Oh-lé-lé-lé-lé...
Vamos todos p’ró carálho...
(se a audiência for sensível a linguagem adulta, podem mudar a última palavra para galheiro, anjinhos, ou outra)
Oh-lé-lé-lé-lé...
Se o reforço não chegar...
Oh-lé-lé-lé-lê...
VIVA A PELÚDA... VIVA!
Estamos a 25 de Dezembro de 1968!...
Era um novo dia e…dia de Natal!... Era como que um novo menino Deus tivesse nascido!... Era só alegria, transbordante, louca, incontrolável e que sei lá mais!... E, ali, apesar de separado de todos os meus familiares…eu era o ser mais feliz do Mundo!...Era livre e… como tal…
Foi até não mais entrar!... Ostras, camarão, pardais fritos e grelhados...gindungo e mais gindungo!...Foi um farrabadó!...Cerveja a montes!...
No outro dia…dores de cabeça? Quero lá saber!...
Sou um homem livre!... O mundo era meu!...
v
Ora bem!...Aconteceu que, durante o serviço militar...como era normal, dava umas voltas pela cidade...abancando aqui e ali, incluindo na Esplanada do Grande Hotel!... Ali, entrei em contacto com o dono do mesmo onde ele, ao saber que tinha trabalhado na Industria hoteleira na Metrópole...perguntou-me se eu podia ajudar em certas ocasiões, quando tivessem banque- tes!...Pedi ao meu chefe – o “querido Tenente da Messe de Oficiais da FAP, se poderia tentar ganhar algum $$$. Concordou, desde que o serviço na Messe não fosse descurado!...
Assim, dias antes de passar á “Peluda” o dono do Hotel perguntou-me se eu queria lá ficar a trabalhar!... Disse que sim mas, mas não chegamos a acordo por a verba oferecida, ser curta!... Desse modo, passei pelo local onde estava previsto abrir a Solmar – café-cervejaria-restaurante, no centro de Bissau. Falei com o dono – Sr. Afonso, já dono doutro local – casa Afonso, no chamado “chão Papel”!...Conversamos e, ficou assente que ficaria ali a trabalhar!...
Eu era ainda solteiro e trazia uma angústia comigo, devido Rosa - “a bajouda da marmita” - mas, não podendo fazer nada – (ou até poderia (?)...mas, indeciso...baralhado…tentei esquecer e...chegado o momento fui casar á Metrópole com a que ainda hoje é minha mulher!...
Antes, porém, pergunto ao dono da Solmar se acaso poderia acomodar mais uma empregada – a minha futura mulher e, pela negativa...decidi passar pelo Grande Hotel novamente onde, o dono, ao ver-me ficou todo contente porque ele ia a abrir um novo restaurante - O PELICANO.
Conversa curta, “amor á primeira vista” (até era a segunda) ou...para melhor, tudo se encaixou nos objectivos de ambos!...Trabalho para dois e dois para o “O PELICANO”!...
Fui casar e regressei acompanhado para a Guiné. Inicialmente, durante os últimos retoques no novo restaurante, a aguardar a chegada de mobílias e louças etc., etc. - ficamos no Grande Hotel!... Ali, conheci um indivíduo que tinha estado preso no Tarrafal, classificado como “terrorista”...chamado Mário Mamadou Turé – cujo apelido de Guerra era MOMO!...Tinha sido libertado juntamente com Rafael Barbosa – figura emblemática no PAIGC - depois de ter estado no Tarrafal.
Ali, mais um Mário que, forçosamente tinha que ser boa pessoa!...E era!...Dávamo-nos às mil maravilhas e… qual “terrorista” qual quê?
Todo o cidadão que tem luta pela libertação do seu país…não é um terrorista mas, sim…um Nacionalista!...Terrorista é quem ataca outro País, para usurpar os recursos naturais, com o petróleo, por exemplo!... E, se adivinharem do que estou a falar…então é isso mesmo!...
O MOMO…sabia o que dizia e o que queria!... Impunha respeito ao pessoal local e a nós próprios!...Há que saber respeitar o “inimigo” que, no fundo, se calhar até nem era!... Propaganda dum raio que deturpa tanto as coisas!... Claro...quando se chega “a elas”...morrer por morrer que morra o outro!...Seja amigo ou inimigo!
Aqui, nesta foto, para que vejam eu até tinha cara de anjinho!...
Tão anjinho tão anjinho que, conforme descrevo no meu livro, o facto é e foi que...eu até estava com “um pó” ao padre pela falcatrua que ele me fez...quando me “roubou” 900$00!... Tive que pagar duas vezes pela papelada para casar com a minha mulher!...Na verdade, na foto, eu até já era casado com senhora ao meu lado esquerdo e, por incrível que pareça, apesar de me assistir o direito legal de poder ir dormir com ela – ou melhor dizendo, para ir p’ra cama com ela e, se assim fosse, creio que pouco se iria dormir – o facto foi que, quando fui ao altar, eu já era marido legitimo dela e, o facto foi que, o ir para a cama, não tinha sucedido, devido a que…o relato é dado no meu livro!...
Neste ponto, de estar ali a casar novamente, até poderia ser considerado “bigamia” se não fosse o facto de que a pessoa em causa era a mesma pessoa envolvida no primeiro e no segundo casamento, sem nunca nos termos divorciado!...Têm que ler a história para terem uma ideia como é que foi a coisa!...
Além disso, já era uma 1:30 da tarde e, eu, já com uma fome danada, quando ele vem com aquela coisa tão relesinha e insignificante que, mal a pus na boca se agarrou logo “ao céu” da mesma - e não o outro “céu” que descrevo nestas linhas!...
Aqui, todavia, estava ainda fresquinho de casado!... Toca a passear com a “madame” e mostrá-la a algumas “bajoudas” do tempo da tropa...criando…imediatamente “ciúmes” logo ali, nos dois lados da “fronteira” dos amores...enquanto eu me ria por dentro!...
E, uma delas, foi a Rosa – a “bajouda da marmita” á qual lhe dedico o poema seguinte, já enviado antes para alguns camaradas mas que, devido a alguns erros, tive que corrigir!...
ROSA – A Bajouda da Marmita
(Por: Mário Tito)
I
De “ebónica” pele...que reluzia...
Cintilando ao Sol, durante o dia!...
Era tudo...aquilo que eu queria...
A cada momento de fantasia...
O corpo dela, aquilo que eu só via!
II
A Rosa... a bajouda da marmita...
Melancólico olhar...mas muito bonita...
Sorrindo amplamente, sem fazer fita...
Elegante, desenvolta, toda catita...
Como era linda...a bajouda da marmita!...
III
Às horas do almoço ou do jantar...
Lá vinha ela, elegantemente a caminhar...
De marmita na mão...para nela carregar...
O sustento de alguém, que estava a esperar...
Que ela voltasse, sem muito tardar!...
IV
Era linda...a bajouda, Rosa, de nome seu...
De corpo esbelto que queria que fosse meu...
Alegre...sempre…até que um dia... sucedeu...
Não querendo dizer o que lhe aconteceu...
Ela, chorando, um beijo na face me deu!...
Foi só isso e nada mais...
Não apareceu… jamais!..
V
Até que, nove meses ou oito e meio...
Um “mulatinho” ao mundo veio...
Não era meu... um tal anseio...
Quisera eu, estar pelo meio...
Mas era tarde, para tal devaneio!...
VI
Tive pena dela, a bajouda da marmita, a tremer...
Que, quiçá, sem ela querer...
A seu amo teve que se submeter...
Por medo, ou algo que não quis dizer...
Mas, fosse o que fosse, teve que ser!...
Eu...era eu...o Cabo da Messe...
Ela...era era ela...a Bajouda da “marmita”!...
Junto outro poema em homenagem a ela!...
CANÇÃO-POEMA
“Quando se anda de amores”
(Por: Mário Tito)
I
Quando se anda de amores...
Não se deve olhar a cores...
Nem tão-pouco...á religião!...
Deve…respeitar-se o sentimento...
Daquilo que nos vai por dentro...
Porque, quem manda é o coração!...
II
ELE... é Rei entre os senhores...
Quando ELE anda de amores...
Não se deve contradizer
Ele ama á sua maneira...
E queira a gente ou não queira...
Não há nada que fazer!...
III
Melhor...deixá-lo tranquilo...
P’ra que...não venha com aquilo...
De ser...um fracassado...
Porque se ele sofre, também sofro eu...
Faça o mesmo com o seu...
P’ra não ter um mau bocado!...
IV
Contrariá-lo...é perigoso...
Porque ele... às vezes é manhoso...
Dizendo que...tem muitas dores...
E...seja verdade ou não...
Diz que é um pobre coração...
E que está morrendo de amores!...
V
Na trama dele, eu não vou...
Não quero ser como sou...
Como ele, um fracassado...
Eu só quero, arrancar de meu coração...
Custe-me a vida ou não...
Este amor do meu Passado!...
***
v
Estamos a 14 de Novembro de 1969.
O “O PELICANO” abre e, para os que conheceram o mesmo...sabem muito bem que aquilo era enorme!...Eu era o encarregado daquilo tudo!...Daí que, antes, eu tinha falado com o dono para que...alguém de confiança, me pudesse assessorar para lidar com o pessoal local, resolver certas quezílias de disciplina de horário, comportamento no serviço etc. etc.!...Nada melhor que o MOMO!... Assim, ele acompanhou-me para o “O PELICANO”!...Ao mesmo tempo, o horário era das 7 da manhã á 1h00 da noite ou da manhã, como queiram frasear!...
Para tal, era necessário vários turnos e, por uma questão de controlar… tanto no bar de cima como no debaixo, era mais que óbvio que eu não podia exercer controlo naquilo tudo sozinho!... Assim, fiz pressão para que viessem alguns familiares por uma espécie de confiança!...Deste modo, acabaram por chegar...irmão (que já tinha sido tropa na BA-12, mas ao serviço no Exército, numa
Companhia de Art.Antiaérea – 63-65) com mulher, irmã com marido e, uma cunhada, irmã da minha mulher, por uma questão de suporte familiar á noiva recém-casada!...
Tudo estava de “vento-em-popa” até que fizemos balanço!...Perante umas dúvidas – nunca gostei de dúvidas – propus ao dono que me subalugasse aquilo e, deste modo, já não haveria dúvidas!...
Não aceitou!... Despedi-me, aluguei um espaço que ainda andava em construção. Fiz a papelada a requerer alvará e fui de férias com a família!...regressei com a mulher e os outros ficaram!...
Estamos a 14 de Novembro de 1972. Foi quando abri o NINHO DE SANTA LUZIA!...
A razão para o nome de NINHO, esteve um petisco que eu inventei...sem querer...o qual passou a ser extremamente popular, chamado “NINHO DE CAMARÃO”, que um dia destes direi como tudo começou!...Assim perante este nome, decidi chamar ao meu “Snack-Bar-restaurante O NINHO – pelo nome do petisco e DE SANTA LUZIA – por estar localizado no Bairro do mesmo nome!...
Á esquerda – acima e em baixo - eu com a minha filhota numa actividade frequente, com banquetes de toda a espécie – muitos deles para despedida de companhias militares!... Acima, á direita, com minha mulher num dos poucos momentos de tempo livre na esplanada do SOLMAR. Abaixo, na cozinha do Pelicano com mulher e irmã!...ERA SÓ AMORES MAS…VIGIADOS!...
O homem nunca casa com a mulher de quem gosta mas… sim, com a que “só vê defeitos” nele!...
RAIOS-PARTAM NISTO!...
Entretanto, na véspera de abrir o NINHO, fiz as contas de “deves e haveres”!... Os “deves”…eram 4 vezes a minha altura!...Eram só dividas…o aventureiro que sempre fui!... O único “haver”… tinham sido 230 contos já evaporados e...uma carrada enorme de confiança!..
Estamos a 31 de Março de 1974.
Até aqui, nesta data – menos de dois anos passados - tinha tudo pago e o armazém com mais de 3.000 contos também, quase pago!...No entanto, ainda havia aquela franquia de se comprar a 30-45-60-90 dias!... Nesse mesmo dia fiz a escritura da compra – por trespasse - do Bar-Restaurante “ A TABANA” – ex- META aberta em finais de 1968, com a minha ajuda, a pedido do meu chefe - Tenente da messe de Oficiais da FAP em Bissau. Como ele sabia que eu tinha trabalhado no ramo da restauração na Metrópole...pediu-me para lá ir trabalhar no dia da inauguração!...
O Barista da Messe ficou lá como encarregado!...
Nota: Para aqueles que tiveram a oportunidade de conhecer tanto A META como A TABANCA, sabe do que estou a falar. Para outros, foi pena porque merecia apena!...Era um tubo de escape na cidade de Bissau, para aliviar o “stress”!
Até aquela data...há toda uma gama de possíveis comentários mas, pelo que me é dado observar, os camaradas da “Tertúlia” estão mais “embicados” com períodos de pós-Independência!...
Tendo isso em consideração...e por me merecerem o maior respeito, tentarei abreviar alguns episódios pré-independência… embora, no meu ponto de vista, não possa deixar de lado certos rabinhos de certos episódios, por estarem intimamente interligados com o do pós-independência...tal como o seguinte!...
Estamos entre 14 de Novembro de 1972 e poucos dias depois do 25 de Abril – 1974.
E, conforme já mencionei nalgum lado nestas linhas, alguns dos nossos estavam completamente “apanhados pelo clima” e…um deles, entra no NINHO, senta-se ao balcão e colocar uma “pêra de sopro” (granada) em cima do balcão!...Um dos meus empregados – o José Carlos - assusta-se e alerta-me para o facto!...
Ora, tinha acontecido que, logo a seguir ao 25 de Abril, uma companhia de intervenção vem para montar segurança ao perímetro de Bissau – patrulhando ruas etc., etc., da qual fazia parte um cunhado meu, irmão da minha mulher!... Eu até carregava sandes, bebidas etc., para entregar ao grupo onde ele estava até que ele me aparece no NINHO com uma caixa e 24 granadas das outras – defensivas. Agarrei numa e coloquei-a dentro de uma caixinha de cartão – que antes tinha sido a caixa de um despertador – e coloquei-a mesma atrás da registadora!
Recordo que, um dia, o mesmo empregado, fazendo uma limpeza mais a fundo, passou o pano atrás da registadora e, ao ver uma caixa de “espertador” – se calhar a pensar que podia roubar – pega nela e abriu-a e…o suto que apanhou ainda hoje deve de estar todo mijado!...Foi sorte não a ter deixado cair!...Mas…quem é que lhe mandou a ele a abrir a caixa? – Claro, queria era ver se a podia desviar para vender o despertador!... Só que aquele despertador… não o iria acordar somente a ele mas, sim toda a vizinhança!...Bem feita metediço!...
Bem, após isso, eu disse-lhe nunca mais mexesse naquilo e que, se lá estava era porque eu assim o tinha decidido!... Uma ali, e 23 escondidas a jeito de se irem buscar, em caso de “aperto de calos”!
Ora, voltando ao tal que tinha colocado a outra em cima do balcão… o rapaz assustado, vem p’ró pé de mim a tremer! Eu agarrei na minha, aproximo-me do fulano e, pergunto-lhe se aquilo está á venda e, sem esperar resposta, disse-lhe se era para exibição…que eu também podia exibir a minha, ao mesmo tempo que meti o dedo na argola…enquanto lhe dizia para desaparecer dali imediatamente com aquilo fazendo gesto de caminhar para a rua - o NINHO tinha duas portas, sendo uma de acesso á parte de dentro do balcão. Assim, o tipo a sair pela outra e eu acompanhar do lado de dentro do balcão, até á rua e até que ele desapareceu de vista!...
Passados uns minutos…”BUUUUUUM… por ali perto!...Não sei se foi aquele ou se foi outro!...
Neste ponto, há que reconhecer que “entre os nossos” havia de tudo e, muitas das vezes uma rivalidade descontrolada!...Entre Paras e Fuzileiros! Entre Comandos e Polícia militar e, entre eles todos, especialmente a tropa de elite!...
Recordo que, um dia – uma quarta-feira – dia de folga de todo o pessoal, tinha aceitado fornecer um jantar de celebração de qualquer coisa, a um grupo das finanças, incluindo convidados! Ali estávamos, numa mesa em “U” quando, repente, BUUUUM-BUUUM-BUUUM logo em frente, na estrada de Santa Luzia!... Segundo constou, eram os comandos – um grupo claro, não todos – em cima dos mangueiras a despejar granadas aos jeeps da PM!...Dentro do NINHO, toca toda a gente a aterrar debaixo das mesas!... Uma vergonha, diga-se desde já!...
Voltamos ao dia 31 de Março de 1974 – dia da compra da Tabanca!
Logo a seguir á compra da TABANCA… iniciei uma série de reconfiguração, decoração etc., etc. do local dentro dos planos de abertura para um mês ou dois mais tarde!... Aqui, tal como no jogo – que só me sai jogo furado – o plano saiu furado e bem furado porque...
O primeiro furo mais que óbvio – fora do meu controle- foi o 25 de Abril!...
Assim...estamos no 25 de Abril...
Aqui, ocorre-me perguntar - e até serve para cada qual contar uma estória -onde estava cada um dos camaradas?
Eu estava lá, no Ninho de Santa Luzia, negócio em movimento que requeria a minha presença constante!... Mas, naquele dia, numa aberta, desloquei-me á “A TABANCA” e disse aos trabalhadores que não espetassem nem mais um prego!...Estivesse como estava...ficaria assim até ver onde paravam as coisas!
Estamos a 26 de Abril...
A partir dali...foi escorregar por uma tábua abaixo e ficar dependurado no precipício, tal como me aconteceu uma vez, a bordo de um pequeno barco, pertencente á Embaixada dos EUA – Bissau, quando eu e um mecânico estávamos a bordo, com o motor parado, indo ali o barco á deriva, direi tinho aos pilares do cais, movido pela corrente forte da água!...
Eu vi o caso mal parado a pensar que nos esbarrávamos contra aquilo!...Pego na âncora...atirou-a p’ra água e, a puta da corda… leva-me atrás dela!...Só não fui p’ró charco porque bati com os tomatos – ainda hoje me doem quando falo nisso - naquela coisa onde se amarra a corda ao barco, quando atracam!...
Não sou marinheiro e por isso não sei o nome!...
Entretanto, os armazéns de revenda, começam a exigir tudo a pronto, ao mesmo tempo que que-rem receber a factura atrasada!... Ali, entra-se num impasse e decido não pagar a atrasada, se não fornecerem a crédito!... Façam o que quiserem!...Para pagar o atrasado, tenho que vender e, aquilo ($$$$) não era elástico!... Enfim, luta económica e psicológica!... Há que saber navegar nestas águas senão vai-se mesmo p’ró charco!...
Continuamos no dia 26 de Abril de 1974
Como o NINHO só abria às 11 da manhã, eu aproveitava essa aberta, para me deslocar á cidade a comprar mantimentos, fazendo ordens de entrega futura mas, também comprar carne, peixe, etc., por serem produtos que necessitavam de se lhe por o olho em cima, para avaliar a qualidade!...
Recordo que estava perto da AMURA (para os que conheceram) por detrás do Café Bento e perto da Tasca-Bar do Zé D’Amura quando oiço um alarido enorme vindo do lado do QG, estrada abaixo, junto ao Hospital Simão Mendes...na direcção da cidade!..
Era um “TORNADO” humano – escuro á distância e que, esta coisa de se dizer “ quem tem cú tem medo”, teve um influência imediata em mim...apesar de um dos meus verso num dos meus poe-mas a sair brevemente no livro “ANTOLOGIA IN VERSO”, constar como...
Quero morrer de manhã cedo...
Antes que a morte possa vir...
Não...porque lhe tenha medo...
Mas...para dela…eu me rir!...
Ah... ah... ah!...
E, como ainda não era de madrugada...interiormente pensei...- ‘Vai dar uma volta... ou, vem e apanha-me se puderes… puta-do- fado’!... (Come...and catch me, if you can, fate´s bitch). Assim…
neste ponto, gostaria de recomendar que, enquanto uma pessoa vive – seja homem ou mulher – o importante é ter sempre uma atitude positiva!...Nunca desanimar...independentemente da situa-
ção!... Já se sabe que nem sempre é possível mas...menos possível será se, cada qual não tentar!...
No meu caso, posso-lhes garantir e comprovar que, neste momento, tenho mais que motivos para não ser alegre!...nada relacionado com a saúde que, felizmente por esse lado, tem estado sempre bem…devido – se calhar – ao “Briol tinto” – mas, infelizmente por aspectos familiares...com
incidência na minha única filha, que vive no Luxemburgo!...Problemas pessoais, entre ambos!...
Mas, como sou muito teimoso e lutador – pelo menos interiormente - lutarei com a “puta do
fado”… quando ela bater á porta assim sem mais nem menos, sem ser convidada!...Façam o
mesmo!...Lutem com ela e…sejam alegres!...Ou tentem ser!...Vão ver que espantam a puta durante uns tempos!...
Agora, aproveitando esta fase da conversa, e pelo facto de eu ser muito teimoso...permitam-me um desvio sobre a Guiné – já lá vamos daqui a bocadinho – o certo é que, sempre que posso encontrar uma frase, um gesto, uma palavra que contenha alguma ironia...nem olho para trás!...
E, não olho para trás por duas razões bem definidas.
Uma delas...se o fizer, vem-me á memória aquele episódio de, quando mais novo, ter passado em frente da porta do cemitério logo após o “lusco-fusco” e, o medo que tinha era tanto que...eu “sentia “ uma espécie de...quase como umas mãos a agarrarem-me por trás... que eu pensava serem esqueletos vivos!...Olhar para trás era o olhavas!... Porra...eu não queria encarar com n
nenhuma daquelas personagens!... Esqueletos? Ainda se tivessem carne...vá lá que não vá!...
Mas…esqueletos mortos e...mesmo esqueletos?
Foge, foge Mário, antes que faças parte deles!...
Desse modo, quem quer que fosse que estivesse ou parecesse que estivesse a agarrar-me pelo lado de trás...teria que o fazer sem eu lhe ver a cara!... Eu, por teimoso, ateimava nisso!...
Uma outra razão...no aspecto de ser teimoso, está o facto daquela coisa…“Quando fui ao Céu (?!) pela primeira vez”!...
NOTA: Para que tudo encaixe, terei que introduzir ‘o rabo’ da estória condutiva á descrição da minha ida ao Céu!... Assim… o texto seguinte serve de guia, até se chegar “Á PORTA DO CÉU”!...
ESPERO QUE COMPRRENDAM E...CALMA…A GUINÉ ESTÁ CHEGAR!...
Agora, voltando ao facto de eu ter sido forçado para ir para a Força Aérea – como podem verificar, não me esqueço do que estava dizer - creio já ter referido que uma das razões deve ter sido o facto de eu ter um braço torto, devido ao meu acidente de burra porque os Páras não aceitavam gente ‘aparentemente defeituosa’ e, por cima…lá nos Páras submeteram-me a um exame físico mais rigoroso do que quando eu tinha ido à inspecção!...
E, foi aí que, uma tal dita médica pára - que refiro mais atrás - me apalpou os testículos com mais rigorosidade - de tal ordem que, como ela tinha as unhas postiças, até me beliscou num deles - do que o médico – seria médico (?) aquele tipo com cara de Sargento e de ter acordado mal disposto, que me inspeccionou quando fui à inspecção (?) - e, conforme ia dizendo, a médica pára descobriu, que eu tinha um testículo maior que o outro, como tive ocasião de referir antes, nalgum lado nestas linhas!...
Recordam-se de, mais atrás, eu ter mencionado o tal formigueiro, que eu atribuí a efeitos testiculares, concentrado no meu lado esquerdo? Pois, era exactamente a este facto, o de ter um
‘testículo’ maior que o outro, que eu me referia!..
Entretanto, permitam-me referir que a palavra ‘testículos’, até só tomei conhecimento dela, já depois de ter emigrado porque, lá na minha aldeia sempre ouvi falar sobre os mesmos - o que agora conheço como testículos - dizia eu que, sempre ouvi chamar aos mesmos, “tomátos ou colhões”…mas, como isto é para escrever num livro, obviamente não devo usar essas palavras - tomátes ou colhões (?!) - porque não é tão civilizado, embora signifique e queira dizer, exactamente a mesma coisa!...
Mas voltando á médica pára e à descoberta que ela fez sobre um dos meus testículos... pois, por acaso, até fiquei bastante aliviado por assim ser devido a que, se a descoberta dela tivesse sido ao contrário... como, por exemplo, se ela descobrisse que eu tinha um testículo mais pequeno que o outro, aí sim...já me preocuparia mais!...Isto significa que, embora pareça contradição, o facto é que não é e, como tal, permitam-me explicar melhor o meu ponto de vista!...
Ora, tratando-se de um testículo maior que o outro, significa e quer dizer que, o ‘outro’, para todos os efeitos, foi apurado para ‘todo o serviço’ – militar...ou não - pela médica pára e, consequentemente, era considerado normal!...Por isso, dentro deste prisma ou ponto de vista e, para os efeitos que os mesmos testículos foram criados, eu até tinha – e tenho ainda porque, ao escrever estas linhas, ainda cá ando - testículos de sobra!... Mas, se fosse um testículo mais pequeno que o outro e que, ‘o outro’ é que fosse normal, já estão a ver o meu ponto de vista que, se assim fosse, me faltavam testículos, para não dizer tomátos ou colhões!
Espero que me tenha explicado testícularmente, suficientemente claro!...
Eh pá!...Tenham calma!... Estamos a chegar á Guiné!...
Por acaso, o testículo a que me estou a referir, até é o do lado esquerdo devido a que, como estou a escrever isto - estas linhas - e, às vezes deixo o computador ligado a meio da conversa, para ir até ao Clube Português – apesar do barulho – a desanuviar as ideias ou a outra coisa qualquer e, como a minha mulher também gosta de ‘sneak-in’ - ou ‘meter o nariz’ como se diz em português - no que estou a escrever, tal como uma irmã dela, aquela que tem a mania que sabe fazer ‘cocktails’ e, à qual me referirei mais adiante e, portanto, como ia dizendo, referindo-me ao eu deixar o computador ligado, pois aconteceu que, ainda não há muito tempo, a minha mulher - e até nem sei como é que raios ela descobriu – me disse que tinha verificado que era verdade - ‘aquilo que tu tens escrito no computador, a respeito do livro e a respeito dos teus testículos... dizia-me…ela, nessa ocasião, -‘afinal, sempre é verdade que...sim (!) que um deles – referindo-se aos meus testículos – ‘o esquerdo, é realmente maior que o outro’!...
Como é que raios…ela soube? Se calhar apanhou-me a dormir e...curiosidade de mulheres!...
Quando ela me disse isso, recordou-me logo ‘a primeira vez que eu fui a um alfaiate’ para...ou por outra...permitam-me rectificar a frase ‘a primeira vez que eu fui a um alfaiate’ (?) para, ‘a primeira vez que eu visitei um alfaiate’ porque, eu ‘ir a ele...nunca fui nem irei’, porque não é o meu forte’ - para, dizia eu, me encolher e estreitar umas calças que me tinham dado, quando eu trabalhava numa taberna-carvoaria, lá em Lisboa!...
Lembrem-se que, eu era pobre!...
Aconteceu que, quando ele, o alfaiate, me estava a tirar as medidas, disse.me para eu abrir as pernas um pouco (?) ao mesmo tempo que me perguntou, de que lado é que eu usava a ”ferramenta” e, acredite o leitor que, eu ali, mas lá junto ao alfaiate, naquele momento, confesso que, com aquela coisa dele me dizer para ‘abrir as pernas um pouco’, assim à primeira, até desconfiei que o homem, se calhar até era capaz de ser mesmo ‘la-ri-lo-lé-la’!...
Ora, como eu trabalhava numa taberna-carvoaria e como não tinha ferramenta alguma, eu olhei para ele espantado, e perguntei-lhe... - ‘Então o senhor não sabe que eu trabalho na taberna ali da esquina e que, por isso, não tenho nenhuma ferramenta porque eu não sou carpinteiro ou pedreiro’?
Ele, rindo-se, disse... - ‘ Oh rapaz...a ferramenta a que eu me refiro...é aquela coisa que as meninas gostam muito para brincar aos meninos’! -‘Não me digas que não sabes o que é isso’? … perguntou ele, se calhar a desconfiar que desconfiava que eu fosse...‘o que eu estava a desconfiar que ele, se calhar, era’!...
Porra… era o eras!
Mas, voltando á pergunta dele, eu ali, só me restava manter a calma porque, factos são factos, devido a que eu até sabia e muito bem o que era ‘isso’ – aquilo que ele se referia como ‘ferramenta’ - porque já tinha usado ‘isso’ até mais que uma vez...tendo sido até, - uma delas - na passadeira do corredor do 3º esq., do número 18 da rua de Angola, em Lisboa!...Só que eu não conhecia ‘isso’ como ‘ferramenta’!...
E, sobre o acima, permitam-me mencionar que, eu, antes de trabalhar na taberna-carvoaria, trabalhei como ‘marçano’ numa merceeira – que, creio, que até dava pelo nome de Pérola de Angola -situada no número 7 da rua de Angola em Lisboa, que era e é mesmo em frente, na esquina oposta ao número 18 da mesma rua!...
Ali, aconteceu que - e eu bem me lembro - no nº 18 trabalhava uma ‘sopeira’ que, tal como aquela outra garota da minha aldeia, também era danada para ‘brincar aos meninos’ e, daí, o eu dizer acima o já ter usado aquilo que refiro como ‘isso’, e que o alfaiate se referia como ‘ferramenta’!...
Mas, sobre o que se passou na passadeira, eu até bem me lembro que...com as garotas lá da minha aldeia, aquilo não passava de brincadeiras de crianças de 8-9-10-11 anos e que, como tal, ‘a passarinha’ delas – das garotas...se já ‘penujava’ era o máximo que podia ter sido e que, até em muitos casos, nem ‘penujo’ tinha ainda!...
Agora ali - mas lá - no 18 da rua de Angola, a coisa já rondava os 16-18 e, como tal...a garota em questão, até já ‘amojava’... e, como eu, nunca tinha tido a oportunidade de ver uma ‘passarinha pintada já com barba à volta’ ...o raio da curiosidade era tanta e tão grande que eu ia estragando o ‘arranjinho’ quando, já após estarmos ambos na passadeira, eu insisti para que ela - a garota - acendesse a luz para - curiosidades dum raio (!) - eu poder ver como era o enfeito da ‘barba á volta da passarinha’ e...vejam só...para ver aquela coisa tipo ‘berbigão’ que, na ocasião, eu conhecia como ‘o grelo’ mas que, mais tarde, - já depois de ter emigrado - até aprendi que, cientificamente, é conhecido como ‘clítoris’!...
E, definitivamente, se a palavra ‘clítoris’, não é de origem Grega então... eu, definitivamente também não sei de onde é que é ou não é oriunda!...
Bem, mas com aquela coisa de eu querer a luz acesa, ali mesmo e de imediato, entramos numa disputa sobre ‘luz acesa’ - dizia eu - ‘luz apagada’ - dizia ela - ao ponto do meu testículo esquerdo começar a pôr-me nervoso e, a um certo ponto...eu disse... - ‘então… assim, também não quero’, ao mesmo tempo que agarrei nas pernas - ou por outra, as pernas é que agarraram em mim, saindo porta fora, não imaginando o que iria a acontecer logo de seguida!...
De repente, sai ela - a sopeira – disparada porta fora, agarrando-se a mim a gemer – e, na ocasião, por não saber do que se tratava – hoje já sei - eu até pensei que ela ia desmaiar agarrada a mim - com os braços e as pernas á minha volta, de tal ordem que...eu até bem me lembro que estava um degrau mais abaixo do patamar do andar dela e, eu ali em pé, com ela atracada a mim a gemer
…anh, anh, anh, anh, anh...,eu á rasca não aparecesse algum vizinho ou vizinha - que ainda seria pior - quando, carregando com ela ainda atracada a mim, entro novamente para dentro do corredor e... bumba, passadeira...pró chão...com a luz acesa...tal como eu queria!...
SOU TEIMOSO OU NÃO SOU TEIMOSO?
Mas…ali, até valeu apena!
Oh lá se valeu?!
É que eu, se ateimar numa coisa, mesmo que esteja ‘com fome’ prefiro não comer do que vergar.
Sempre fui muito teimoso!... E, neste aspecto, não sei ‘a quem é que raios eu saio’ porque,
Tentando, sempre tento levar a minha avante conforme menciono nalgum lado nestas linhas, ao ponto de, bem...depois explico melhor!...
O certo é que, na ‘azáfama’ que se seguiu, francamente perdi a curiosidade toda de procurar saber primeiro que raio de enfeito a “passarinha” dela tinha á volta porque, as ideias ficaram completamente todas baralhadas de tal modo que, se aquela coisa de, quando mais novo, eu até tinha estado quase a entrar para um seminário e que, como tal, se tal tivesse sucedido, talvez tivesse sido ‘meio caminho andado’ para entrar no Paraíso aquilo…ali mesmo, naquela ocasião, fui ao Céu e vim...trêêêês vezes ‘enquanto o diabo esfrega um olho’!...
E, se o ir para o Paraíso exigia eu ir para o seminário, aquilo que ‘senti’ naquele momento, ficava a anos-luz de distância – para melhor, claro (!) - e, como tal, não trocaria por dez Paraísos!...
Tanto mais que era a primeira vez que sentia o que, naquela ocasião, tinha sentido, embora já tivesse tentado antes... mas, sem realmente nunca ter chegado ‘ao Céu’!...Mais uma vez ali mesmo, admirei a tal garota lá da minha aldeia, pela perspicácia dela, com o tal conselho, para que eu reconsiderasse ‘o ir’ para o seminário!...
Agora, salientando o facto de ter referido de ‘ter ido ao Céu’, quero dizer que, enquanto ia ao céu...num relance - porque estava atarefado - deitei uma olhadela no Paraíso e, o que vi na ocasião - não o que senti - não me deixou muito entusiasmado porque, ou eu me enganava ou eu estava certo, devido a que, o que vi ou pareceu-me ver...olhando assim de relance como já disse, pareceu-me serem os ricos a rirem-se á gargalhada dos pobres que, como sempre, ali mas lá - já depois de uma vida cá em baixo a fazerem o mesmo – continuavam submissos - os pobres – a servir ‘á grande e á francesa’ a eles, os ricos!... Eles com tudo e os pobres na mesma!...Sem nada!...
Como tal, e como eu sempre tive um palpite devido a que - não sei se já disse antes – eu matei
um gato e, como tal e como dizia, eu sempre tive um palpite que, a rico nunca chegaria...pois ali mesmo ficou decidido que, melhor pobre e ‘ir indo de vez enquanto ao Céu’ – com uma garota ou outra - do que arriscar ir para o Paraíso, arriscando ir a servir os ricos!...
Era o que me faltava!... Pobre, mas com dignidade!...
AGORA? - Lembram-se daquela frase que se tornou célebre, quando o pessoal vinha de regresso á Metrópole e, já uns dias de viajem, acordando ou não, perguntavam…
“Já chegamos á Madeira”?
A resposta é…não mas, “já chegamos á Guiné porque, a partir de agora é…
GUINÉ, GUINÉ, GUINÉ...E SÓ GUINÉ!...
Portanto, voltando á conversa da “puta” que refiro mais atrás, quando sugiro para ela ir dar “uma volta”...o facto foi que, eu não a vi dar volta alguma mas...dei eu!... E foi ali, que invoquei aquela frase que refiro mais atrás, pensando... - ‘Vai dar uma volta... ou, vem e apanha-me se puderes, puta do fado’!...(Come...and catch me, if you can, fate´s bitch).
Como tal, para refrescar o ponto onde estávamos – no centro da cidade de Bissau – dei meia volta
para a direita, subi a avenida em direcção ao Palácio, entrei na rotunda, virei á direita...na
direcção da retaguarda do TORNADO que, entretanto já estava lá para baixo, na direcção da cidade.
Aí não vi nada!...
Só mais tarde é que tive conhecimento que tinham danificado carros, partido montras e feito outros desacatos!...
Faço uma esquerda, sigo na direcção do NINHO... (direcção do QG) e, quando lá chego tinha lá uma 2ª prima, casada com um 2º primo também, radiotelegrafista da DGS. Era só lágrimas a mulher!...Com razão aparente, quando dizia que o ‘tornado’- interpretem multidão enorme de gente - tinha atacado ou ia atacar a DGS para onde o marido lhe disse que iria, levando o único filho com ele, após visita programada, ao consultório do Doutor da criança!...
“Tenha calma oh prima...disse-lhe eu!...Eu vou ver o que se passa”!...
Aqui, abrevio para chegar mais depressa ao ‘caroço’ da expectativa que os camaradas esperam!...
Encontro o homem – primo ainda - e filho, no consultório e, agarrei, dei-lhe as chaves do meu carro e pedi-lhe as chaves do carro dele!...Troquei o meu carro pelo dele devido a que, o dele, era conhecido como pertencente a alguém da DGS. Pela cor, pela marca, e pelo historial de passar de mão em mão, de agente para agente!...
A ideia era e foi que...se acaso alguém viesse a atacar o carro dele, comigo lá dentro...eu colocaria a minha cabeça de fora e acenava com o a mão, para mostrar que era eu que ia no carro, tentando dizer... - “eh bó, és amim ca qui na bai’...como que dizendo “eh pá, sou eu que aqui vai”!...
(O crioulo, depois de tantos anos, pode não estar correcto)
Isto... devido a que, eu era bem conhecido e de boa reputação, na expectativa que me reconheceriam e nada me acontecesse. Garantias não havia mas havia confiança!... Claro, indo o meu 2º primo no meu carro, acreditei que também que não iriam atacar o meu carro!... Assim sucedeu! Procurei um esconderijo para o carro do meu primo e, dei-lhe guarida no NINHO até as “águas acalmarem e a situação aclarar”!...
Através da rádio faziam comunicados a dizer que todos os agentes da DGS se deveriam apresentar na AMURA!... O meu primo não queria e mostrou-me a pistola, num gesto que indicava tudo!...
Ele tinha cabelo e barba grande!...A mulher, que até tinha trabalhado numa cabeleireira no Fundão, corta-lhe o cabelo e ele faz a barba!...Parecia outro de aspecto mas não no nome!... Insistimos como ele e, após o convencermos, fui levá-lo á AMURA juntamente com a família. Dali levaram-nos – ele e todos os outros – para o Quartel do CUMURÈ!...
Hoje vive nos arredores de Lisboa, com um minimercado e café!...
Mais tarde...saiu clandestinamente do Quartel do CUMURÈ – dentro de um ambulância – após eu “untar” os bolsos de um Sargento enfermeiro!...A ideia era, trazê-lo a Bissau para que fizesse exame de “instrutor de condução” para o que ele tinha andado a estudar, na espectativa de que...com essa carta, pudesse exercer essa função, ao regressar – se regressasse a Portugal!...
Ambulância sai do Quartel e foi a descarregar a mercadoria – traseira com traseira – no meio dum cajual, onde eu tinha a minha carrinha Renault onde, com cestos e canastras usadas para se meterem galinhas, leitões etc. A ideia era que, ao passar como passei algumas patrulhas, se acaso me perguntassem algo, eu...depois de sorrir para eles, - como foi o caso – perguntava se tudo estava bem e, se não era um era outro, sempre havia algum que me conhecia!... Ali, pensando que devia de colaborar...oferecia-me para pagar uma sandes ou uma cerveja mas, como estava com pressa, - dizia eu para despistar - oferecia uma nota para que eles tratassem do assunto!...
Claro que, se alguém perguntasse onde ia e a quê ou de onde vinha e de quê, eu mostrava-lhe as canastras atrás – o meu primo ia debaixo delas, coberto com um lençol!...
Levo-o a Bissau para fazer exame conforme estava previsto!...Entra e, após dez minutos, sai todo aflito e, - “vamos, vamos porque aquele cabrão do aspirante ameaçou-me que chamava a tropa!
Em síntese, um oficial Português, não lhe quis fazer exame, após saber que ele pertencia á DGS. Zarpamos a toda a velocidade, direitinhos ao NINHO de Santa Luzia!... Ele ficou no Carro e, após preparar umas sanduíches, arrancamos directos ao CUMURÈ.
O acordo com o Sargento enfermeiro, era ele estar com a Ambulância na bifurcação da estrada de Nhacra – Mansôa, virando á direita para o CUNMURÉ.
Não estava!...
Lá vou eu novamente, com ele debaixo das canastras etc..
Paro o carro-carrinha no meio do matagal – cajueiros na maioria – vou a pé até ao Quartel e peço
para falar com o Sargento!...Após esperar uma meia hora...lá vem ele a dar explicações ao que eu respondi que já nada havia a fazer a não ser meter novamente o homem dentro do quartel, senão era o cabo dos trabalhos!...
Lá se conseguiu e...uuuufe...que alívio!...
Pós-independência!...
Estamos a 5 de Setembro de 1974, dia da Independência!...Aqui, permitam-me uma rectificação que, na verdade, não era o dia de Independência...mas sim o dia do reconhecimento da mesma, por Portugal...devido a que, O PAIGC já tinha declarado unilateralmente a mesma em Medina do Boé.
Mas...vamos ao grão!...
A partir dali, entrou-se numa incerteza que, seria necessário muita tinta para descrever completa-mente os acontecimentos!... E…não sendo a generalizar, convém dizer que, na minha experiência - pós – independência – no dia-a-dia, tive as melhores boas impressões de toda uma série de entidades – Ministros (Comissários como eram denominados) tal como Laurentino Lima Gomes que, ao saber da morte do meu pai em Portugal, pegou no meu passaporte e entrega-mo de volta, com visto de saída! ... E aqui, para que os camaradas da Tertúlia saibam... aquilo, pós-inde-pendência, aquilo era com estar numa prisão! Ninguém podia sair sem fazer um “desquite”!...
Exemplos:
Antes de se viajar – quem quer que fosse – tinha que:
1) Passar pelo Banco - se, tivesse uma letra bancária – eu tinha – não lhe carimbavam o passaporte com “livre” para poder sair, a não ser que arranjasse um fiador. Este, se acaso houvesse a possibilidade, não aceitava ser, com medo que a pessoa já não voltasse!...
2) Passar pelo tribunal - se houvesse algum caso pendente, mesmo que “a título vingativo”, nada de carimbo. Eu não tinha.
3) Passar pelas finanças - se acaso, por um motivo ou outro – incluindo uma perspectiva de nova reavaliação – para mais – dos impostos dos anos anteriores – nada de carimbo até pagar. – Eu tinha mas, com história secundária, que disputei e ganhei. Mas na ocasião, só com a ajuda do Sr. Lima Gomes, recebi o carimbo. Uma jóia de pessoa, aquele homem!..
4) Administração predial - aqui, há que aclarar que, como muitos cidadãos abandonaram as suas propriedades, o governo criou uma agência para administrar as mesmas, arrendando-as por “tuta-e-meia” aos amigos e, bem arrendadas aos outros!... Eu, apesar de não estar incluido como inquilino, não me podia esquivar em não passar por essa agencia!...Era obrigatório, fosse inquilino ou não!...
Bem...continuando com o desquite, após se ter todos os carimbos das agências já mencionadas...vem “Senhora” Migra (Imigração) rainha suprema das todas decisões finais!...
Aqui, doa a quem doer, factos são factos!... Se o titular do passaporte não estivesse de “bons amores “ com o fulano em controlo da decisão final...e a título de exemplo...até parecia que era magia, se o meu passaporte entrasse pela manhã lá na secção onde entrava...era quase garantido que, pela tarde recebia como cliente (?) no meu estabelecimento um fulano daquela secção!...A ideia era...oh raio não me digam que não sabem?
Ah...já adivinharam!...Exactamente isso!...
Conhecendo-o, sempre era uma oportunidade para lhe oferecer algo grátis!... Um bitoque, uma cerveja, uma francesinha ou o que fosse!...Mas se, a minha “miolinha” não reconhecesse ou não quisesse reconhecer...a pessoa...talvez acabasse por dizer… - ‘oh camarada Mário...não se importava que eu ficasse a dever esta conta”? –“Não se recorda de mim? Trabalho lá em cima na imigração”!...
Continuando com outros bons nomes, Armando Ramos, Francisco Mendes (Chico Té) José Pereira, Juvencio Gomes...este Presidente da Câmara de Bissau, um tal PAPA, chefe do protocolo da casa do presidente manuel Saturnino, José Turpin, Victor Saúde Maria – a mulher já não - e muitos outros!...
Ao Presidente L.C., nunca lhe pus os olhos em cima excepto o ter ficado a saber que...passou em frente Á TABANCA num Jeep da POLÌCIA, para fazer cumprir uma nova lei de horário de encerramento dos estabelecimentos como o meu – sem que nunca tivesse havido um meio e de comunicação para que, – eu e outros – pudéssemos estar inteirados de tal lei!...
Uma prepotência...com uma multa de 10 contos...talvez mais do que a receita de uma semana, naqueles tempos!...
Entretanto, a fartura existiu até que o recheio armazenado existiu!...A partir dali...é só prateleiras vazias, racionamento de tudo. Por exemplo, quando se vendia 5X50 lts, ou mais barris de cerveja por dia, recebe-se 3 para uma semana. Vinho Grão Vasco, por exemplo (doutro nunca mais o vi) 5 caixas para um mês. Não havia – para o público em geral, mas havia para eles - óleo, azeite, banha, manteiga, gás, gasolina. Se há café não há açúcar. Se há açúcar não há café, se há velas não há fósforos, se há fósforos, não há velas!...
Enfim...poderia estar aqui até amanhã a enumerar vários factos tristes... como... estar-se a tomar banho, sabão – se o tiveres – no corpo e...”anda lá homem dum raio...esfrega-te depressa antes que a água acabe... e, se isso sucedesse - o que era mais que garantidor- “quem te manda a ti estúpido dum raio não terres acumulado água enquanto corria na toneira, e tivesses enchido uma vasilha para que, usando uma frigideira ou uma panela ou uma malga, para acabares de tirar o sabão do corpo? - Não te prevenis-te a tempo... toma... bem-feita, limpa o sabão á toalha!...
No meu livro descrevo muitas outras situações tal como, levantar-me às 3 da manhã para ir a marcar presença em frente da única padaria a funcionar – a Padaria Francesa – ali, lá ao pé da Igreja principal para...quando chegasse a hora da padaria abrir...qual quê que tu é que chegaste primeiro? Aquilo era mais um matagal de mãos no ar para se receber não o que se queria mas o que lhe viessem a dar, depois de pagar!...
UMA MISÉRIA DE VIDA!
No entanto, para não dramatizar em demasia, o certo é que, se era assim para a maioria, nós, eu e minha mulher, até tivemos sorte porque...entretanto abriu lá a Embaixada dos EUA e a minha mulher foi para cozinheira-governanta do Embaixador de então, para onde fui eu também trabalhar em 77, conforme poderão ver no cartão oficial que me foi dado.
Nota – O cartão só me foi dado mais tarde quando viajei por conta da Embaixada, em serviço a Portugal, para comprar e despachar vinho e produtos alimentares. Daí a date de 1980.
Obviamente, ela – e eu também – passamos a ter acesso a vários produtos que outros cá fora não tinham. Inclusive, após entrar ao serviço, até ia de Land Rover - a Zinguichôr – Senegal - via-Farim onde havia de tudo!... E, Sobre o Land Rover, tenho um episódio em conjunto com um Land Rover Chinês que eu peguei e conduzi por engano... (o raio da nossa chave serviu no deles!)
Na minha honesta opinião... o que se seguiu pós- independência, foi tudo uma série de atropelos e abusos...praticados não pelos altos responsáveis mas, sim, porque, tal como num saco de batatas boas... podem existir umas quantas “batatas podres”... e – consequentemente - poderão contaminar todas as outras!...
Quanto a mim foi isso que sucedeu!...
Meia dúzia de “batatas podres” fomentaram um ambiente ditatorial...repressivo, por dar cá aquela palha... e, alguns deles – diria eu - sementes caídas da rama da batata podre e, como tal, numa posição menos poderosa!... Mas, sentindo-se protegidos pela origem - a batata podre – propagaram-se rapidamente como uma peste, no meio da sociedade!... Uns oportunistas de todo o tamanho!...Foi uma miséria!...A nós...eu e minha família, só nos valia a razão!...A eles, valia-lhes a prepotência!... Alguns…queriam comer grátis - ou ficar a dever!...Á minha negativa, pois, era só uma questão de tempo!...
Estou vivo por sorte e, francamente, como não tenho muita inclinação para a religião – respeito todos o que pensem o contrário - não dou graças a Deus porque, a minha desilusão é tão grande que não me vou a rebaixar a outra coisa que não seja ao poder da razão!... Quando um homem tem razão, tem-na!... (Num aspecto de humor, a mulher mesmo que não tenha razão...tem-na)!...Foram tempos muito difíceis que daria para gastar muita tinta. Talvez, uma estória de cada vez… se possa ir comentando!... Tentarei, sempre com a verdade, até que os camaradas queiram, se me perguntarem especificamente o tópico da mesma!...
Hoje é mais o passar “o pente por cima” de um período longo e que, como tal, será mais um resumo do que a “cabeça tronco e membros”!...
Estamos nas primeiras semanas ou meses, após a Independência.
Aparece no NINHO de SANTA LUZIA, alguém do novo Governo a solicitar um jantar para o dia seguinte – uma Quarta-feira, dia de folga de todo o pessoal - no local que estava encerrado, A TABANCA!...
Nota: A TABANCA era, na ocasião, o único restaurante privado – meu – com ar condicionado e, quiçá, esse seria o motivo deles quererem que fosse ali o primeiro jantar da Primeira delegação estrangeira a visitar o novo País. Disse-lhes que o pessoal estava de folga e que, a ser feito, teriam eles que pagar ao pessoal porque, folga era folga!...Acabamos por chegar acordo e lá se serviu o jantar...que até foi para a delegação da Argélia!...
Faz sentido não?
Constou-se que foi lá “ impresso” a nova moeda colocada em vigor – em substituição do “escudo” do Banco Nacional Ultramarino que, como tal...ainda tinha alguma aceitação nos Bancos de Portugal!
10-15% de desvalorização e, a coisa...funcionava mas, após a nova moeda...uma pessoa podia levar um saco cheio de notas ao Banco Português...que nem para a casa de banho serviam!...
NOTA: Obviamente, não entrando aqui em pormenores, na realidade, quando uma pessoa necessita...tudo é possível!...A necessidade fez – e fará – o engenho!...Eu não me importaria nada de ter carregado – se permitissem – dez sacos da nova moeda para Portugal porque, cá para nós, há muitas maneiras de matar pulgas!...
Mas não era permitido!...
E como tal, muita coisa se passou a passar “por debaixo da mesa”, para não dizer no “mercado negro”, incluindo, mas não só – até para proveito dos dois lados da equação quando, por exemplo...mais adiante explico!... Mas, voltando ao tal jantar, para a primeira delegação estrangeira a visitar a Guiné pós-independência e, como gosto de ironizar... aleluia, aleluia, que a vaca pariu uma montanha após 9 meses de parto!... É que, o prometido pagamento, demorou 9 meses a ser liquidado!...
PORRA! Eu tive que pagar ao pessoal as horas extras que eles prometeram pagar!...
Na ocasião, deram-me um papel carimbado – declaração de dívida - para que eu, periodicamente submetesse á cobrança no Banco. É que, não só tive que pagar as horas extras ao pessoal como já disse...c omo, também, aquele papel não era aceite por ninguém!...Nem pela mulher das ostras, nem pelo fornecedor da carne!...Nem pela companhia da electricidade, controlada pelo Governo!...
Voltando atrás, pré-independência...as tropas Portuguesas saem e, constou-se que os fuzileiros deixaram armadilhas no quartel da Marinha!...Se deixaram ou não, não sei!...Constou-se também que o NINO ou alguém, foi a interceptar o Barco onde ia o último contingente de militares portugueses a pedir explicações!...Se foi ou não, quem lá ia deve saber!...
Entretanto, os nossos Comandos Africanos são desmobilizados – sendo forçados creio eu – a entregar as armas que, segundo constava, eles não estariam de acordo...por recear o pior!...
Razões tinham eles coitados!... Parecia que adivinhavam o que lá vinha!...
Assim foi!... Os nossos - falharam-lhes!
Após serem desmobilizados, eu dei trabalho pelo menos a quatro destes desmobilizados – um deles o do meio, na foto abaixo – Domingos Demba Djassi - ex-fuzileiro da nossa marinha! Ele era muçulmano “Mandinga ou Fula”.
Estamos a 21 de Março de 1975
Uma Sexta-feira, dia de ir á Mesquita – e, em consequência do 11 de Março em Portugal,
constou-se que – com participação de ex-comandos Guineenses - havia algo preparado na Guiné para 18 de Março.
Recordo que estava eu em pé em frente á porta da TABANCA, quando chega um Jeep da Polícia, com PAIGCs, armados até aos dentes!...Ora como eu conhecia alguns dos polícias – alguns deles que só queriam era abancar e comer grátis - eu, num gesto civilizado e como tinha confiança com eles, cumprimentei-os em crioulo...
Dizendo...”Coma di corpo, oh Embaló! – por exemplo!... ”oh raio”...saem os PAIGCs, com 4“calas-te…ó-ti-fodes”... (kalashnikovs) gritando... ”mãos ao ar”... enquanto a polícia entra de roldão para dentro do Restaurante!... O mundo já era meu!...
Eu de braços no ar, minha mulher a chorar – para ajudar a moral - um PAIGC paisano a entrar – hoje a viver em Cabo – Verde - um bom sacana não só para mim, há que o dizer - e...começam a sair uns quantos empregados (4 ao todo) 3 ex-comandos e um que nem sequer tinha sido tropa mas que tinha uma barbicha tal com o Djassi tinha!...´
O Djassi é o do meio!...Alguém o reconhece?
Ali, a minha mente começou a trabalhar a toda a velocidade – mas sem arredar pé de onde estava – alcancei ao que eles andavam!... Assim, quando aquele que não tinha sido tropa...ia de mãos na cabeça, eu falei em crioulo...”onde é qui. bó na vai”? Aonde é que tu vais? - ”Oh...a mim cá sibe”! Eu não sei...disse o pobre!...
“Abó cá sibe abó cá sibe”... – disse eu - Bó cá na jubi q´ueles na busca ex- tropa comando?”...Tu não estás a ver que eles estão á procura dos ex-comandos? Claro, mais pinga menos pinga porque o crioulo já se vai esquecendo!...Então, o paisano pergunta-lhe se ele não foi tropa ao que o fulano – Agostinha da Silva – respondeu que não.
Reparem, só o levavam porque tinha a barbicha!... O que eles queriam era o outro, o Djassi!...
Então, volta o paisano para mim...”onde está o outro empregado”? – “Não sei...é o dia de folga dele”!... SABIA QUE TINHA IDO Á MESQUITA, MAS NÃO LHE DISSE!...
Entretanto, põem todos os clientes fora do restaurante-bar e, o paisano...disse – “o restaurante fica encerrado até novas ordens”!... – 4Q (para ser lido em inglês), disse eu mentalmente, sem dizer absolutamente nada!...
Ora bem...sem me armar em carapau de corrida, o certo é que eu não engulo as coisas assim sem mais nem menos, somente porque alguém o diz!... Tinha a minha consciência tranquila num modo geral. Se fazia alguma, fazia-a muito bem-feita tal como, por exemplo, ter comensais - professores cooperamtes e outros – e, após saber com quem é que estava a lidar (só me enganei num que não me pagou um mês) propunha-lhes pagarem-me em Portugal em escudos porque eu tinha a minha filha em Lisboa na escola e, o Banco da Guiné, não autorizava transferências para Portugal. Para os filhos deles... sim... mas não para os outros!...
Então...quem não souber ser padre que não vista a batina!... Começa-se com uma declaração de dívida de 2.000$00, tendo em consideração que a mensalidade rondava os 3.000 pesos locais. A mesma era entregue por um familiar do comensal a um meu familiar em Lisboa. Cada mês, eu fazia as contas de cada comensal e – uns mais outros menos, deixava os recibos na caixa para que eles pagassem conforme fossem aparecendo. Mas antes, eu dava ao mesmo o valor da dívida em pesos mesmo que fosse mais de 3.000 pesos. O ponto era ele pagar na registadora em pesos para que – no caso de a haver algum “bufo” a trabalhar comigo – e havia, descobri-o mais tarde – todos pudessem ver que os comensais pagavam em pesos!... Claro… eu corria o risco de que não me pagassem em Lisboa os 2.000$00 combinados mas, se tal sucedesse, só sucedia uma vez porque lhe cortava logo “a palha” ao falcatrueiro!...Como disse, só houve um e só um mês.
Se a conta fossem mais de 3.000 pesos, davam-me em Portugal 2.000$00 e, devolviam-me á parte o restante em pesos, pessoalmente. Desta forma, uma só declaração chegava para o efeito desejado!...
Estamos novamente a 21 de Março de 1975
Voltando ao terem-me dito para encerrar o restaurante, aconteceu que, nesse dia, eu tinha uma reserva de 18 pessoas, para um jantar das Nações Unidas.
Desta forma, decidi ir a aclarar ao Comando da Polícia - Nova PIDE - o porquê do encerramento do mesmo onde, aparentemente, alguns dos Comandos se reuniam lá com o Djassi – para mim eram clientes – para aquilo que fosse que estavam a planear.
Eu estava de fora!...
Depois de tentar falar com o “paisano” – até tenho o nome dele mas não quero divulgar porque, o que lá vai lá vai - para que aclarasse a situação, fiquei á espera de resposta no passeio!...Passado um pouco, vem um PAIGC armado...e ordena-me para sair dali e ir para o outro lado da rua!...
Ali estive durante talvez uma hora ou mais...entre as 3 e as 5 + -!...
O que presenciei cada 15-20 minutos...foi a chegada de camiões e mais camiões militares, carregados de seres humanos como se fossem carneiros!... Foi uma razia que fizeram aos ex-Comandos – aqueles que não queriam entregar as armas porque sabiam com quem estavam a lidar!...Voltando mais atrás...no geral, a maioria das batatas eram de boa qualidade mas, o problema foram as ”batatas podres”!...
Valas comuns – alguns, até, se calhar enterrados vivos, como constou – foi o destino de milhares! Mais uma vez!... Os nossos falharam a esta gente!...
Quem dos nossos?
Obviamente que não fomos todos nós...mas sim uns quantos com poder de decisão!...
Enfim...após assistir a tão triste espectáculo de...carradas e carradas de seres humanos, transportados como gado bravo e, após insistência minha para saber com o que é poderia contar – no aspecto de poder ou não poder servir o jantar previsto para as NU, acabaram por me dizer que poderia abrir mas...que me pusesse a pau porque o meu nome constava numa “lista negra”!...
- “Lista negra? Porquê? - perguntei eu – “Eu não fiz nada escuro”!... rematei!...
Agora, aqui para nós...estou mais que convencido que, se o dito jantar não tivesse sido para as Nações Unidas, eles não me deixariam abrir...pelo menos naquele dia!...
Mas, voltando á lista negra...a existir...teria que ser uma fabricação de uma ou duas “batatas podres” devido a que...perante uma prepotência tida para comigo anteriormente e, aqui, o melhor é começar pelo princípio.
Ora bem!...Nos finais de 1974...já com a TABANCA aberta e a funcionar em pleno – tinha chegado pessoal pertencente a várias embaixadas de todas as cores políticas – americanos, soviéticos, cubano, morcegos, suecos, franceses, alemãs comunistas e que sei mais!...Era uma autentica Babilónia!... E, factos são factos!... A TABANCA era o único restaurante privado nas mãos de um Europeus. A minha mulher e eu!...E, por curiosidade ou fosse pelo que fosse, o certo é que o negócio até ia de “vento-em-popa”.
Mas, ao mesmo tempo que a TABANCA foi aberta, eu decidi encerrar o espaço do NINHO DE SANTA LUZIA e iniciar uma remodelação, pensando em dar outro cariz ao negócio futuro naquele local!... O Alvará continuava activo e, como tal, seria só uma questão de tempo!...
Assim, remodelei o salão grande – para quem conheceu sabe do que estou a falar – vendi mesas, cadeiras, balcão e tudo o mais – algumas coisas até ofereci a alguns empregados que planeavam abrir um negóciozito lá no bairro deles – e, desta forma o salão grande ficou livre e amplo!...
Mas, como o prédio era germinado – residência e negócio – destinei um espaço da residência para um futuro pequeno bar que poderia vir a fazer serventia ao salão grande!... A ideia era e foi, dedicar o salão grande para bailes – principalmente aos fins de semana!...Para o efeito, abri um arco entre esse espaço e o salão grande, na perspectiva de serventia a qualquer eventualidade!...
Em resumo!...A ideia seria eu alugar o salão grande a conjuntos musicais – Mamajombo, Cobaiana jazz, etc. etc.!...Eles controlariam as entradas para o salão e, eu e o meu pessoal, controlaríamos as saídas do bar!... O pequeno espaço seria usado só no dia-a-dia, nos dias futuros.
Sexta e Sábado, usava-se também o arco, de serventia!... E, se chegássemos a concretizar o mesmo tenho a certeza que resultaria se não tivesse sito o caso de…as “batatas podres” começarem a ter pernas!...Este plano estava em marcha e, na verdade, embora tudo estivesse em andamento, o certo era que, só aos fins-de- semana é que havia alguma actividade no salão, uma vez que, com a nova reconfiguração, era necessários tudo ser aprovado, incluindo um acesso do pequeno bar a uma casa de banho uma vez que a do salão requeria pagamento de entrada!...
Assim, neste compasso de espera, aparece-me um grupo do Comité do PAIGC do Bairro de Santa Luzia a solicitar a minha cooperação, para lhes emprestasse o novo espaço – antes englobado na residência – destinado ao pequeno bar...para que eles pudessem vender arroz ao Povo, debaixo da alegação – verdadeira - que, o Bairro de Santa Luzia era o único bairro que não tinha um local destinado ao efeito!...
Assim eu, num gesto de cooperação, disse-lhes que sim mas que tinham que sair em Janeiro – estávamos fins de Nov. início de Dezembro. Prometeram-me que sim!...Que logo que eu necessitasse, era só dizer!...
Eu, de coração aberto, alinhei.
Mas, aí é que foi o meu erro devido a que, o grupo do Comité estava subjugado por algumas “batatas podres”, pertencentes aos chamados “ARMAZÉNS DO POVO”!... Nesse departamento, além de alguns elementos dignos de se conversar e lidar, militavam uns quantos “figurões” que, abusando do poder que eles próprios assumiam, manipulavam as decisões feitas ou a fazer.
Assim, chegado a Janeiro, eu pronto para abrir o pequeno Bar na expectativa prevista, pura e simplesmente dizem-me que não saem porque em primeiro lugar estava o POVO!...
Oh que grande novidade, me estão a dar!
Que o POVO deveria (?) de estar primeiro sabia eu!... Pena que, até ali, o que se via era o contrário!...Abotamento$ ma$$ivos, cronismo e compadrio de toda a espécie, abusos e, ainda por cima, eu que estava a pagar a renda do prédio – 12 contos na ocasião – o POVO tinha prioridade sobre um espaço pequeno, feito a contar que servisse de serventia ao outro espaço, onde se poderia proporcionar festas lucrativas e, como tal, dar emprego a alguns membros do “povo”, pagar impostos sobre os lucros e, estes vêem -me com esta!...
Dê-lhes uma semana para saírem!... Não saíram!
ESTAMOS EM JANEIRO DE 75.
A entrada tinha um portão de lagartas a abrir para os lados – direita, esquerda – com um cadeado ao meio. Agarrei numas correntes e noutro cadeado e, á noite, após encerrar a TABANCA – e uma vez que dormia ali no edifício do NINHO, passei as correntes á volta da grade e coloquei o outro cadeado. No outro dia de manhã, ao preparar-me para seguir para a TABANCA, deparo com uma multidão de pessoas – POVO – para se abastecerem de arroz.
Custou-me muito aquilo mas, um homem tem que respeitar a sua dignidade e ter certos princípios próprios, dos quais nunca se deve abdicar!...Morra o homem fique a fama!
A maioria conhecia-me e, em crioulo expliquei qual a razão e, na maioria até compreenderam!...
A pé, - já não tinha carro!...Por falta de peças, não trabalhava!... Assim, segui estrada abaixo e, quando ia ali – lá, cerca da zona dos coqueiros, a meio caminho do QG com a cidade, aparece um VW preto, conduzido por um PAIGC e, tendo como passageira “uma das batatas podres”! Não digo nomes porque não adianta!...Param ao ver-me e, ela, em crioulo, pergunta-me se não tinha aberto o portão!...Disse-lhe que aquilo era meu (?) e que eu é que pagava a renda e que, como tal, o que eles estavam a fazer era um abuso de autoridade!...Fiz movimento para continuar o meu trajecto e ela, diz então...”se abó cá na abre portão...na mandau prendiu goss goss” que o mesmo seria dizer que, se eu não abrisse o portão, me mandava prender imediatamente!...
Voltei-me para trás e respondi-lhe que...se me quiser mandar prender poderá encontrar-me na TABANCA, para onde vou, após passar pelo Palácio a pedir uma audiência ao Presidente – Luis Cabral, na ocasião!...
Falando a verdade, avisei a minha mulher do que se passava – e claro, ela, para ajudar os ânimos, tinha que começar logo a chorar - porque pensava eu mesmo que – nesse dia - deveriam vir e colocar-me á sombra!...Mas ninguém apareceu!... Portanto, a minha mulher chorou em vão!...
Raios partissem isto tudo, porra! Ou se chora com razão ou, não se chora de uma vez!...
Curioso – (curiosidades de raio, tal como aquela curiosidade tida lá com a tal sopeira, no caso da luz acesa, luz apagada – recordam-se) – o certo é que por curiosidade quis ir ver o que tinha acontecido lá naquele local em disputa!...
TINHAM SERRADO O CADEADO NOVO!...
-“Ah sim… querem guerra vão tê-la!... Agarrei, comprei outras correntes porque as primeiras tinham desaparecido, comprei outro cadeado, vou a um ferreiro para que “temperasse bem temperado” aquilo tudo de modo a que o serrote de cortar ferro, não pudesse entrar naquilo!... Assim, munido com aquilo tudo, á noite, depois de encerrar a TABANCA, vou para o local do NINHO – onde dormia – com a ideia de voltar a colocar outra corrente com outro cadeado!...
Oh diaaaabo!...Quando ali chegue, deparo com três PAIGCs, armados até aos dentes – deviam de ser Balantas – com “Ti-calas-ó-ti-fodes”... (Kalashnikovs) em frente ao local do “crime”!...Ali, como já era de noite, mas não ainda de manhã cedo, foi quando inventei aquele verso que já mencionei mais atrás.
Quero morrer de manhã cedo...
Antes que a morte possa vir...
Não, porque lhe tenha medo...
Mas, para dela eu me rir!...
Bem, escusado será dizer que ali não me atrevi nem sequer a falar com eles!... Mas, como na parte da manhã tinha passado pelo Palácio a pedir uma audiência ao Presidente e, nessa ocasião, disseram-me que apresentasse a questão ao Primeiro-ministro Francisco Mendes –“ Chico Té” e, perante a situação, decidi ir ao gabinete do PM – que até era na mesma rua da TABANCA, acompanhado do Djassi, na foto mais atrás!... Fui muito bem recebido!... Após ouvir o que eu tinha para lhe dizer, pegou no telefone a falar com o Ministro do comércio - Armando Ramos – uma jóia de pessoa – e, após terminar...disse-me que fosse ter como ele- AR - a explicar toda a situação. Assim fiz nessa mesma tarde e, após me receber, disse-me que fosse tranquilo que iriam sair dentro de uma semana!... NADA!
Volto lá, e...oh homem dum raio, aquilo é tinha uma gripa!...Gritando ao telefone com quem que fosse e, resultado...á noite estava tudo vazio!...
Assim, na minha opinião nem todos eram “batatas podres”!...Antes pelo contrário!... Muito do que acontecia era, muitas das vezes, á margem de qualquer comando superior!...
Aqui, basta neste ponto!...
Obviamente, muita outra coisa sucedeu por toda a parte da Guiné mas eu só posso comentar o que sei na área de Bissau, embora alguns acontecimentos foram de ramificação nacional tal como o 14 de Novembro de 1979.
Eu estava lá!...
Antes, porém, gostaria de referir que...a “lista negra” que o paisano referiu, deve de ter sido por eu ter resistido!...E mais!...depois de os ter feito sair do espaço que tentavam usurpar-me, deci-di não abrir mais a “merda” do Bar! Entreguei o prédio e arrendei uma residência perto da TA-BANCA!...
Resisti e venci, porque...
- A razão estava do meu lado!...
- Eu sou pequeno mas duro de roer!...
- Aquilo, ali, não eram só ‘batatas podres’ – havia muito boa gente e com consciência.
- O que me dava mais conforto era saber que, quando morresse, se realmente morresse, ia deitado
e, consciente da minha razão!...
Agora aqui, e em referência ao dizer que sou pequeno mas “duro de roer”...perdoem-me os amigos da Tertúlia...mas tenho que referir-me a um episódio que se passou – entre mim e a Polícia Portuguesa, antes do 25 de Abril quando eu ainda estava a trabalhar no restaurante O PELICANO!...
A coisa foi que...na minha ausência, entram uns quantos polícias á paisana – se calhar a querer abancar grátis – e, após lhes ter sido servido fosse o que fosse, incluindo uma aguardente
Aveleda, naquele calicezinho afunilado, com um risquinho ao meio – que os tipos mais espertos, para beberem mais, pediam duas vezes “meia Aveleda” – o certo foi que...o preço de venda era 6$00.
A bagaceira normal era 5$00 e a Aveleda era 6$00, em todo o lado, incluindo na tasca mais rasca!
Ora, aconteceu que, como já disse, estava ausente e, quando chego...recebo notícia que, os fulanos – incluindo “O nosso (deles…não meu) Chefe Carvalho” tinha pedido uma factura selada quando, que eu soubesse até ali, só era obrigatório selar uma factura se a conta alcança ou ultrapassa os 100$00. O que se passou, efectivamente hoje não sei bem porque o meu cunhado é que estava cargo do Bar. O que digo foi o que ele me disse.
Mas, o que sei foi que, no outro dia me telefona o dono do Grande Hotel – dono do PELICANO também – tão aflito que estava o homem – dizendo-me que baixasse o preço da Aveleda imediatamente… blá, blá, blá...porque estava lá um Subchefe da Policia – Tenente Valente - com uma queixa para ser assinada por ele ou por mim eu, a fim de ser submetida a tribunal!...
Disse-lhe que não assinasse nada e que o mandasse vir falar comigo!...Passados 20-30 minutos, entra o homem - bem fardado, há que o dizer - e pergunta por mim. Apresenta-se, diz ao que vem e mostra-me a folha de papel selado para eu assinar, com a descrição da razão da queixa.
Texto mais ou menos da descrição. Abreviando “que me foi servido um cálice (não dizia a capacidade do cálice) de aguardente (não dizia a qualidade ou tipo de aguardente) pela quantia de 6$00 (uma fortuna) o que acho exorbitante... blá, blá, blá!...
Olhos nos olhos, pergunto-lhe directamente se eu era obrigado a assinar aquilo!... Eu sabia e sei muito bem que ninguém é obrigado a assinar nada! Seja o que seja!... Então ele, disse-me – quase indeciso – que não era obrigatório eu assinar!... Até aí sabia eu e muito bem!...
OK...eu sabia que era assim… - disse eu... – mas, eu não assino não é porque não sou obrigado e, sim pelo facto de que não concordo com o teor da queixa!...
-‘Meu caro senhor...- disse eu – pegando num balão grande, numa garrafa de bagaceira da mais barata, num cálice dos mais pequenos (imaginando que tinha sido aquele e o tamanho onde lhe foi servida a Aveleda) e uma garrafa de Aguardente de “FIM DE ou DO SÉCULO” e digo… – se a aguardente que lhe foi servida foi esta – a mais rasca – e o cálice foi este – o balão – e o preço foi 6$00, eu perdi dinheiro!... E – continuei... – se a aguardente que lhe foi servida foi esta – Fim de Século – e o cálice foi este... (o mais pequeno) e o preço foi 6$00, também perdi dinheiro!..
- Por isso não assassino... – rematei!...
-’Ah, mas foi o nosso (dele) chefe Carvalho!...- disse ele.
- ‘Pois é, mas o nosso (?) chefe Carvalho é um ser humano com qualquer outro que pode cometer erros… - respondi!...E não assinei.
Contrafé entregue para comparecer no comando e, enquanto escrevia, digo...”não se esqueça de seguir a lei!... A contrafé tem que obedecer às regras!... 24 horas pelo menos de antecedência, quando não se tratasse de um crime grave. E aquilo não nada disso.
Lá vou á hora e local indicado. Espero, entro, sento-me e...a praxe do costume.
Nome, etc.., etc...até que chega...Natural de: Alcaide - Concelho de: Fundão... Pronto, terminou tudo!...Empurra a máquina de escrever para a frente e... Aaaaahhhh...você é do Fundão? – ‘Sou...respondi - mais propriamente dito do Alcaide!...- ‘Sabe de onde é que eu sou? pergunta o homem – ‘Não...- respondi (e era verdade) – “Sou de Alcaria, logo ali ao lado do Fundão!... Estendi a mão e disse-lhe... Então somos conterrâneos!
Bem…o resto, podem imaginar. Foi uma folha de papel selado desperdiçada somente porque, de vez quando, queriam beber um cafezito ou um bagacito grátis!...
- Oh chefe Carvalho - disse, eu, - então os Senhores não vêem que, um empregado não tem
autorização de oferecer nada a ninguém? - O meu cunhado, tem que prestar-me contas “caramba”! – e continuei… - “ Quando… os Senhores visitarem o PELICANO… perguntem sempre por mim!... – “Se eu não estiver… paciência, ficará para a próxima!...- “ Foi um prazer... rematei!
Foi um golaço á Cristinano Ronaldo!...Nunca mais me chatearam!...
Agora, voltando à pós-independência.
Estamos a 14 de Novembro de 1979...
NINO antecipa-se e...
São, mais ou menos 2:30 da manhã, a dormir. Quando acordo ao barulho de pancadas na porta!... Nessa ocasião vivia num apartamento mesmo por cima do café-Cervejaria SOLMAR (para aqueles que conhecem) localizado no bloco de edifícios da Casa Carvalho a 50 metros da Embaixada Americana, onde eu trabalhava!...Perguntando quem era e...era o meu chefe americano dizendo-me que me levanta-se e fosse para a chancelaria da Embaixada, proteger-me por precaução!... Assim, juntamente com a minha mulher, que era a cozinheira do Embaixador, lá fomos. Vários Americanos já lá estavam.
Foi ali que acabei por saber mais ou menos o que tinha passado!...
Aparentemente, NINO antecipou-se a um possível assassinato (mais um?) pela facção oposta da ala Cabo-verdiana. Pelo menos era e foi o que constou na ocasião. Eu não afirmo nada!...O certo é que, de vez enquanto se ouviam estrondos e mais estrondos e, na ressaca, acabei por saber que um tal ‘António Buscardino’ chefe dos serviços de segurança interna – PIDE ou pior que a mesma – e, sobre isto é irónico constatarr que eles – e muitos dos nossos não gostavam da PIDE e, ali tinham uma cópia raiada de todos os lados, defeituoso…igual ou pior – aquele que era chefe do tal “paisano” referido antes, quando prenderam 4 empregados meus, no Restaurante “A TABANCA” tinha sido morto ao tentar resistir!...
Não fez nem faz cá falta alguma! De “insectos venenosos”, está o mundo cheio!...
Enfim, ali estive na EmbUSA, até cerca de madrugada, ocasião em que, alguns Americanos decidiram regressar a suas casas nos arredores da cidade, comigo a conduzir um Land Rover, a fazer distribuição ao domicílio!...
Barricadas e mais barricadas, com tropas armados até aos dentes e, lá longe, mais um ‘Boooomm. Booomm’ que, fosse o que fosse, eu não queria lá estar perto do local!...
Já de dia, não foi logo possível ter acesso a todos os locais de confrontação, devido a que estava tudo debaixo de controlo com barricadas!... Somente a nível oficial ou devidamente autorizado é que se podia passar!...
Pouco a pouco, com o pessoal local a aparentar alívio – aparentemente tinham ficado contentes por, finalmente, ser um “filho da terra” a tomar conta das rédeas do destino da Guiné. O resto, é estória!...
Foi ali que se descobriram valas e mais valas comuns – no CUMERÉ – NHACRA, BAFATÁ e que sei eu mais...onde milhares e milhares daqueles que tinham estado ao nosso lado – erradamente ou não, na opinião de alguns – mas tinham estado ao nosso lado e, na minha opinião, devíamos-lhe pelo menos gratidão!...
Fossem quais fossem as circunstâncias ou invocações da esquerda ou da direita, aqueles seres humanos deveriam ficar protegidos!...Que nada nem ninguém os marginalizasse ou perseguisse – com razões quantas vezes fabricadas na secretaria de alguma “batata podre”...era um mínimo que se pedia!...Neste aspecto, deveria ter ficado BEM CLARO em letras gordas, quando se fez qualquer acordo de desmobilização!...
Bem, depois de já estar a trabalhar na EmbUSA, com alguns pequenos confrontos pessoais, tal como no aeroporto, sómente porque eu era “tuga” e, uma das minhas missões – entre outras – era, por exemplo, se o Embaixador viajasse, eu ir á frente com passaporte, malas etc...a clarear tudo e, logo que o ele chegasse, acompanhá-lo até mesmo às escadas do avião – tinha passagem livre, carregando aquela malinha pequena, como se fosse um homem de negócios!...Só que, mais uma vez, alguma “batata podre” que fazia parte do aparato de controle...começava a embirrar comigo!... Se eu fosse cubano, soviético ou da laia deles, tudo bem. Mas eu era “Tuga” e, perante esta atitude, eu dizia para comigo...“4khim” (leia-se em inglês) - pensava eu baixinho para o tipo não me ouvir!...
Bem, ali, a trabalhar na Embaixada dos EUA e, com o meu restaurante fechado …desta vez de livre vontade… do qual pagava renda do prédio e paguei até Dezembro de 1981, na possível eventualidade que decidisse reabrir, do qual tenho recibo para recordação!...
Mas...com isto tudo, passei de 1975 para 1979 devido a que, como disse inicialmente, muito mais havia pelo meio. Assim, voltando atrás…
Estamos novamente em 1975 -1976 ou ali cerca
1) Vem uma multa de 10.000 pesos, por ter ainda o estabelecimento aberto, com clientes lá dentro, depois de um horário que, nem eu nem nenhum dos meus colegas do ramo, sabíamos existir e estar em vigor!..
2) Vem uma multa de 4.500 pesos, por ter vendido uma garrafa de vinho Grão Vasco por 85.00 pesos, quando deveria ser 75.00!
3) Vêem as acusações de que eu recebia dinheiro “proibido” (ponto e vírgula) dos comensais – na maioria professores portugueses do ministério da educação, em regime de cooperantes, bem como de outros estrangeiros não comensais!...
4) Vem a rusga, á procura desse tal dinheiro “proibido”...incluindo revistando sacos de arroz, farinha, latas de leite em pó etc.-, etc., - no local do negócio – A TABANCA e, não sendo suficiente...toca a irem á minha casa, revistando colchões, autoclismo, frigorífico, fogão... e, seca e meca!...
5) Vem o quererem obrigar-me a dizer “Camarada” e a obrigarem-me a dizer pesos, em vez de escudos!...Com cada coisa no seu lugar, eu lá tinha as minhas razões.
Eu só discuto, se tiver razão.
Já disse antes que há muitas maneiras de “matar pulgas” e, neste ponto, no aspecto do sistema ser ou não ser Comunista, está o facto de...uma ocupação directa do meu estabelecimento poderia criar uma certa fricção diplomática - embora francamente falando, da nossa Embaixada não era de esperar qualquer reacção em minha defesa, se tal acontecesse (e eu sei o que digo porque passei por elas) o certo era que...rodeando a questão, dificultando a vida o mais possível, poderiam criar um ambiente de “give up” ou desistência voluntária!...
Por outras palavras!...Alcançariam os mesmos objectivos, por portas-e-travessas!...Desta forma, ninguém os podia acusar de me terem usurpado nada!...Ou seja... uma puta não é uma puta mas uma mulher da vida!... Á “merda”, todos eles!
Com aquela da rusga, fiquei a saber que tinha “um bufo” como empregado!... Descobri quem era o sacana e, caladinho, esperei a primeira oportunidade para o pôr a mexer!... Um traidôr de todo o tamanho que tantas vezes ajudei...mesmo sem ser meu empregado!...
Putas e com “a da mãe dele” às costas!... Filho de uma galinha choca!... Porque é que a mãe dele não o tinha enjeitado...mandando-o pela sanita abaixo!... Mas ali, não havendo sanita...”Poilão” com ele!...
Poilão (?)...pelo menos aquele a que me refiro...era onde muitos iam a descarregar a bexiga!...
Atenção!...Isto não era a regra!...
Descrevendo cada caso, começo pelo novo horário de encerramento!...
Normalmente era á 1 da manhã!... Pois, não mais!...Como o negócio ia de “vento em popa” – ironia – já tinha ido antes, mas não na ocasião, devido á escassez de mercadorias que entretanto se fazia sentir – com fartura da miséria que existia, as prateleiras cheias de latas e garrafas vazias, somente para decoração e… o lucro já era tanto...toca a reduzir o tempo de funcionamento porque a fartura faz mal a muitos e a miséria a muitos mais!...
Desgraçado e mesquinho pensamento!...
Bem, indo directo ao assunto, sendo cerca das 11:30 da noite, pouco ou muito sempre se ia recolhendo alguns pesos!...Eis que chega um Jeep da polícia de onde saem alguns conhecidos por “bons pagadores (?) ”... onde seguia o presidente Luis Cabral, segundo disse um dos polícias. Aqui, para que vejam, que L.C. se preocupava (?) tanto com o povo da Guiné, que até fazia rondas de precaução, não fosse algum (?) estar com fome!...
Continuando... entra a polícia, pergunta a que horas é que encerrava e, lógico, disse-lhes que era á 1 da manhã!... Disseram-me que não… que era às 11, devido a nova lei!...
QUE ESPERTEZA...PARA RECOLHER IMPOSTOS SOBRE OS LUCROS!...
Então se, às 11 era quando terminava o Cinema da UDIB e que, com tal, sempre havia a possibilidade de aparecerem alguns clientes para um bitoque – mesmo que o ovo fosse escalfado em água, uma vez que não havia óleo, azeite, manteiga, banha...nada – ou uma francesinha, se houve electricidade para a máquina trabalhar...beber um copo, nem que fosse de vinho de caju ou aguardente do mesmo o que, supostamente daria algum lucro e, como tal, pagaria impostos.
Então se às 11 ninguém quase queria ir para casa devido a que poderiam morrer congelados (?) devido ao frio que acaso pudesse fazer se ar condicionada estivesse parado, porque se calhar não havia electricidade para o fazer funcionar, pois...só restava era irem para a beira do rio!...
Ali, pelo menos, se alguém quisesse, podia-se matar ali mesmo, afogando-se.
Voltando á polícia, dão ordens de saída a todos e uma contrafé (dada á má fé) para que comparecesse no outro dia no Comando da Policia.
Resultado? Dez mil pesos de multa!...Toma lá que é para almoçares “Tuga dum cabrão”!
Bem, mas o melhor está para vir!...
Perante isto, eu decidi que…
1) A partir das 10 da noite, a cozinha está fechada.
2) Quem quiser mais uma bebida, se a houvesse, seria entre as 10:15 até 10:30.
3) Contas apresentadas a todos os clientes – poucos ou muitos havia sempre – às 10:45.
4) Às 11, todos tinham que estar Nara e nem mais um minuto, tal como foi dito pela polícia! Porra...até houve um que lá tinha dormido antes, com uma garrafa de whisky JW cinta preta, águas castelo e um balde de gelo!...Não gostava nada de whisky, o Oliveira Fernandes!
Mas, há sempre um mas...quem é que convencia os clientes a saírem, conforme estava estabelecido? Resultado! Perante a possibilidade de vir a apanhar outra multa, conforme me tinham avisado se voltasse a acontecer, só me restou tomar medidas drásticas, perante a teimosia de alguns dos clientes – pretos e brancos, há que o dizer!...
Assim, como o portão da TABANCA era fechado por fora a cadeado... eu, após ver que aqueles clientes não iriam sair... agarro, saio e coloco o cadeado por fora. Vou á polícia e exijo que vão comigo lá a pô-los fora e, insisti, que lhes dessem uma multa também!...
Fizeram a primeira - pô-los fora - mas não fizeram a segunda!... Foi um espectáculo que até a polícia se riu!...Alguns dos clientes, a mandarem vir comigo e eu a manda-los á fava da mãe deles!...
O chefe da polícia – que mais tarde encontrei de serviço no Aeroporto de Lisboa porque se tinha nacionalizado Português – disse-me – ‘Oh senhor Mário...aquela de trancar os clientes só lembrava ao Diabo!... –‘ Quero lá saber...O diabo levou-me 10 contos, que queria que fizesse?- disse eu!
Continuando, ponto por ponto, convém mencionar que a fartura de mercadorias só durou até se esgotar a que estava armazenada, desde o tempo da outra senhora!... A um certo ponto, começa a faltar tudo e mais alguma coisa, incluindo o vinho!...
Ora bem...como devem de calcular, o que é que eram 3 caixas de 12X0.75lts.de vinho para um bar-restaurante – ou vice-versa - sem cerveja suficiente - Num dia (?) desaparecia tudo e se calhar não chegava!...
Mais!... O preço de venda ao público, tinha sido estabelecido “por um professor de ciências económicas de um planeta desconhecido” porque, ainda hoje não consigo entender como é que...quem quer que fosse, tinha uma miolinha tão cheia de serradura!...
Como é que se fixa um preço de 75.00 pesos para uma garrafa de vinho de mesa comprada a 67.50, para ser servido em copos – que, às vezes até se partiam - tem que ser aberto com um sacar rolhas antes de o servir, refrigerá-lo - devido á temperatura local – e ser servido por um empregado de mesa que recebia um salário mensal, toalha de mesa ou toalhetes?
Repito, como é que se pode fixar um preço...para tal produto… para um restaurante… igual ao preço do mesmo produto, mesma marca, mesma quantidade... a ser vendido numa mercearia ou minimercado, fechado, mormo, sem copo, sem empregado? COMO?
Uma “merda”, é que era!
Num lado – Restaurante – para se receber os 75.00 pesos, era depois de toda uma séries de pré- preparação e serviço, que o vinho chegava á garganta do cliente!... No outro lado...mesmo preço e, tudo o que acontecia, era só ser metido num saco ou embrulhado em papel e nada mais!
QUE CONTRADIÇÃO!
Bem...independentemente deste aspecto...e apesar de tudo...ao menos que houvesse com fartura porque, atrás do vinho lá veria algo onde se pudesse recuperar o que o vinho não permitia!... Mas, não havia com fartura e...naquele dia, entra um cliente assíduo (creio que já morreu) chamado Lino, adepto do Sporting como eu, bom mecânico, logo por detrás da TABANCA!... Boa pessoa e bom apreciador de vinho!...Pediu o almoço e vinho!... Não havia e, ele mencionou – e era verdade – que na merceeira tal, logo ali na esquina, (CASA PINHEIRO para quem conheceu Bissau) havia lá Grão Vasco, nas prateleiras!
Bem, eu disse-lhe que se lá fosse comprar, eu não ganhava nada. Ele disse que dava mais 10.00 pesos para ajuda. Assim foi.
Só que, entretanto, tinha-se assentado “um mafarrico” junto a ele – que queria comer grátis – que até ajudou a beber a garrafa do vinho!...O tipo trabalhava nos serviços de economia mas, até ali, francamente falando, não o achava capaz de fazer o que fez!...Conta apresentada...notificação dada imediatamente, para comparecer lá nos serviços!... Não compareci!
Resultado? Tribunal!...
Tão simpático (!) o juiz...CRUZ PINTO (cínico dum cabrão)...entendeu tanto ou tão pouco que terminou dizendo que na próxima seria a dobrar!...
Disse-lhe que não iria haver “Próxima”!...E não houve!...
Pagamento imediato de 4.500 pesos!...Agarrei em 5.000, dirigi-me ao oficial de diligências, disse-lhe se eles queriam que lhes desse as chaves da TABANCA!... Fique com o troco, disse eu!...Fui-me embora disposto a encerrar tudo.
Passei em frente á embaixada dos EUA onde sabia estar um fulano americano que – coincidência ou não – andava a namoriscar com a cunhada de um Piloto da FAP de nome Campos, natural do Fundão, cuja mulher e cunhada, moravam na minha aldeia – O Alcaide.
Consegui falar com ele...perguntando se acaso não precisavam de uma cozinheira para o Embaixador que estava ainda para chegar!...Claro que me conhecia da Tabanca e disse-me que iria comunicar isso ao Embaixador!...
MILAGRE!
Não se esqueceu porque, umas semanas depois, chamam a minha mulher e...o resto foi estória!... Entrou ao serviço em meados de 76 até Agosto de 1981, ocasião que foi definitivamente para Portugal!... Mais, sobre isso e como foi, noutra ocasião.
Portanto, conforme já referi, a mercadoria em armazém começa a escassear, importações são nacionalizadas e controladas pelos chamados “Armazéns do Povo” com sede na antiga Casa Gouveia – uma das causadoras do massacre do Pidgiguiti em 1958 – dando origem, mais tarde, á luta armada!...
Começam os racionamentos de tudo e mais alguma coisa!...Copos de vidro para a cerveja partem-se e não há novos para os substituir e, que fazer?
Mais uma vez a necessidade faz (fez) o engenho!... Assim, garrafas vazias da água da Perrier – tanto de litro como de meio litro vão ser usada como copos!... Como?
Aqui…tal como já fiz antes noutro blogue, apresentei a receita de baptizar o vinho... aqui, apesar de não haver baptismo algum...só vai a receita de como fazer copos de vidro sem os comprar!...
Começa-se por colocar óleo queimado dos motores de carros – do outro óleo não havia e, francamente, não sei se funcionaria ou não (se calhar até funcionaria) - dentro de cada garrafa de litro – para ter o equivalente a uma caneca de cerveja ou, dentro de uma garrafa de meio litro – para ter o equivalente a uma imperial normal!...Não necessita de ter todas as garrafas com óleo já que, o mesmo pode ser usado várias vezes, em diferentes garrafas desde que, a medida, seja sempre a mesma!...
Assim estando tudo pronto...e com uma boa quantidade de garrafas prontinhas a serem transformadas em copos, deverá colocar um ferro no fogareiro de carvão – já não há gás butano e, como tal, tem que se cozinhar a carvão – até que o ferro fica ao rubro!...Esteja preparado para poder pegar no ferro sem se queimar!...
Agarre numa toalha ou luva (?) se tiver á mão e, aleluia, aleluia...nasceu o primeiro copo feito por si!...Pois então, se não se enganou...deveria de ter metido o ferro em brasa na garrafa com o óleo de motor queimado a um nível suficiente que, ao estalido que o vidro da garrafa fizesse – e fazia – ficasse com uma capacidade para uma caneca de cerveja!... Raramente se falhava mas, se falha-se, repetia-se a operação. Assim, desta forma, dando continuidade ao corte mágico do vidro das garrafas, grande e pequenas, só restava agora era ‘amortecer-suavizando’ o bordo de cada garrafa!...
Ora, aqui entra em acção a fartura de garotos disponíveis para fazer esse trabalho, com a promessa – sempre cumprida - de “dois xelins”, ou lá o que fosse que se lhe prometia!...Deste modo, uns quantos garotos passavam uma série de horas a rebarbar as arestas aguda “esmerilando” o bordo do copo – ex-garrafa - numa pedra, de modo a que não ficasse qualquer possível vidro que pudesse causar um corte nos lábios dos clientes!...
Finalizando, teria que se levar uma amostra de cada copo aos serviços económicos para serem analisados (uma espécie de serem aferidos como lá em Portugal fazem ás medidas de alumínio usadas nas tabernas – e eu sei muito bem isso porque trabalhei numa) e, após isso, ser estabelecido - e autorizado - o preço pelo que se podia vender o conteúdo, tanto da caneca como da imperial!...Tudo bem até aqui!...
O problema foi que, com racionamento, na maior parte das vezes não havia cerveja para se meter dentro dos novos copos!... Já mencionei antes que, quando se vendia 5 ou mais barris de cerveja de 50 litros, por dia passamos a receber 3 por semana – isto...se recebêssemos!... Assim, tínhamos que reservar a venda da cerveja para a hora de almoço – dizendo aos clientes que “a cerveja era só para quem almoçasse ou comesse algo”.
Uma desgraça completa!...
Isto é só um exemplo, entre outros, tal como não haver óleo de cozinhar, manteiga, azeite, açúcar, café, etc., etc., e, por exemplo se uma pessoa queria um bitoque ou um bife com um ovo, não havendo com que estrelar o ovo, só restava colocar uma frigideira com água no fogo e, quando a água ferversse, meter o ovo lá dentro – tipo ovo escalfado!...A ideia era que, com o sangue da carne...aquilo tudo misturado, disfarçava e passava!...Quantas e quantas vezes foi assim!...
Entretanto, Bissau passou a ser uma espécie de “Babissaulónia”, com a chegada de várias Embaixadas e outras organizações. Suecos, Noruegos, Cubanos, Soviéticos, Alemão (do outro lado) – mesmo em frente á TABANCA - Gringos-Americanos, Chineses, Coreanos do Norte (do sul nunca vi) Nações Unidas, Aeroflot, agencia Lusa, Tass, Novosti e que sei eu mais!...
Irónico ou não, eu e minha mulher éramos os únicos Europeus – Tugas, com um restaurante a funcionar em “Babissaulónia” e, por curiosidade, ou fosse pelo que fosse, na verdade a TABANCA era frequentada quase por todos excepto Chineses e N.Coreanos.
Deste modo...mais uma vez a necessidade faz o engenho!...Como faltava quase de tudo...a coisa era... ”olhe meu amigo...nós podemos preparar-lhe tudo o que quiser mas...não temos isto, isto, isto, isto, isto, isto...e estão a ver a coisa? E continuava ...-“nós fazemos um desconto se nos trouxer todos esses “istos”, antecipadamente ao jantar ou ao almoço!...Sabem uma coisa?
FUNCIONA E DE QUE MANEIRA!...
Exemplo!...Os meus novos vizinhos, mesmo em frente á “A TABANCA” eram os Alemães do Leste que, para que saibam, com quem eu me dava excelentemente bem, não só por serem vizinhos mas porque, conjuntamente com os vizinhos, também havia algumas “boas” vizinhas!... Mas, não vamos confundir alhos com bugalhos e “boas” vizinhas com negócios!...
A coisa era...eu tinha o pessoal, as instalações e a necessidade de muitos “istos”!... Assim, nesta situação, era receita ideal para se coordenar toda uma espécie de saber “navegar” naquele mar bravo!...Ponto.
Ilegal? “Who cares”?... – “Quero lá saber, quando se trata de sobreviver? Imoral? Qual moral? A tua ou a do vizinho! Ora…anda e caga lá nisso…homem, porque…cagar e andar faz bem á senhora “moral”!
Assim, perante isto - além do resto - se eles queriam dar uma festa lá no salão deles e, pedissem a minha colaboração pois...como para colaborar é comigo... - lembram-se de eu já ter colaborado com o Comité do PAIGC...do bairro de Santa Luzia, saindo-me furada a intenção – mas ali, tratan-do-se de uma Embaixada, pensei... – ná, aqui não vai suceder isso’!...
-‘OK!...Quantas pessoas são’? perguntava eu. “20-30” – respondiam. OK... (de facto, eu dizia muito bem, só que, esta coisa de estar nos EUA...raios partam nisto...) então providenciem-me isto e isto e isto, e isto, e isto e...não sei mais que quantos “istos”.
Pagamento?
Tinha que ser algo que eu pudesse vender e dar-me lucro!... Duas caixas de peixe...daquele peixe, pescado pelos barcos deles ou dos Soviéticos, através do modo de “limpar tudo o que houver nas águas territoriais destes desgraçados” – para pagar a dívida da ajuda que fizemos durante a luta armada contra os Tugas”!...Eles a falar e eu a escrever, convém que se aclarar!...
Deste modo, no dia seguinte, eu tinha peixe fresquinho para vender aos meus clientes e, aproveitando tanto as sobras que sobravam dos vários “istos”, cuja quantidade já tinha sido pedida a contar com isso mesmo - que sobrasse algo - que me tinham providenciado na véspera ou antes, lá se ia navegando nas águas turbulentas daqueles tempos!...
De alemães do Leste, só tenho as melhores boas impressões!...Não só por serem vizinhos mas por outras coisas, incluindo, claro está, pelas vizinhas, como já disse!...
Agora...Soviéticos!...Aeroflot!... Oferta de bilhete a Moscovo!
Cubanos? Oh sim...Yo hablo mui bien español, desde entonces!...
E... Brásilêêêêêiros!
Estamos ainda em 75-76.
Começo pelos ‘Spacibas’ ou belchóis!...
Subitamente começa-me a aparecer caras novas na TABANCA para beber cerveja, se a houvesse!...
Engénios, Vladimiris, Dimitris, Anatolis, Natachas, Tichas...e muita Gajaboa!...
Mas, uma coisa que me chamou á atenção foi...se realmmente houvesse cerveja, eles, cada vez que pediam, era logo duas ou três canenas para cada um!...Eu achava estranho e, como a curiosidade é um dos meus maiores defeitos mais perfeitos...decidi perguntar, qual era o motivo por que é que eles…faziam isso…devido a que, entretanto, a cerveja ia ficando menos fresca!...
Resposta!... –‘oh...é que a gente está habituada a estar na “bicha” para tudo e, se não pedirmos tudo de uma vez, teríamos que voltar novamente para a bicha, perdendo o lugar”!... -‘ Oh homem…- disse eu – esperamos que esse sistema não chegue aqui!...Mas chegou!...
Ainda dentro da curiosidade, os tipos utilizavam uma palavra que soava assim como um nome
Português – nem mais nem menos que TAVARIS (que eu entendia de TAVARES) e que, por eu não saber o que queria dizer...quando se dirigem a mim com essa palavra, eu respondia que eu me chamava Oliveira e que, quem era Tavares era o meu cunhado - subchefe da Polícia em Lisboa – o que até era certo - Domingos Nunes Tavares é o nome dele porque ainda vive!...Só mais tarde é que descobri que, o que eles diziam era “Tavarish ou coisa parecida, significando “camarada” lá nas ´que foram as Soviéts Reps!...
Agora...como se devem de recordar, mencionei noutra parte do blogue, aquela coisa da rusga á procura do “dinheiro proibido” como se, quando se necessita ou se está com fome, alguma coisa fosse proibida!
Bem...o certo é que, com a chegada de tantos “foreigns”... também veio uma representação da “Aeroflot”, cujos escritórios ficaram instalados na antiga Casa Luis de Oliveira que, aqueles que tiveram oportunidade de conhecer Bissau, deverão recordar-se do nome.
Assim, o que sucedia era que, a tripulação de um avião que chegava, não regressava nesse mesmo avião, ficando em Bissau num Hotel, até á semana seguinte!...Obviamente, deduzo que no primeiro, vieram duas tripulações, para que as consequentes viagens, já lá estivesse uma tripulação!...
O que aconteceu foi, o individuo a cargo da agência da Aeroflot, um tal Anatoli qualquer coisa, frequentava muito A TABANCA – gostava tanto ou tão pouco de Vodka que...uma vez subiu passeio e tudo com o carro, querendo entrar com o mesmo para dentro do restaurante, dizendo que não podia sair dele!... Era um “bacano”… a saber como “explorar”!...
Assim, vem o dia da inauguração oficial e, como Catering foi o Mário da TABANCA e pessoal, para o Terraço do prédio do ex-Luis de Oliveira levando, além de comida, a máquina da cerveja móvel. Ali, foi até às tantas e...com copos ou sem copos, o raio das Soviéts, todas queriam dançar comigo! Até a mulher do Embaixador...uma gorducha chamada Anatólia Qualquercoisa Ksóstorvava – com a barriga dela a roçar minha – (situação dum raio) e que...se a minha mulher me visse, me atirava pelo terraço afora!...
Neste aspecto...que bons tempos!...
Vinham algumas mulheres Soviéts Á TABANCA e, como havia falta de cerveja...após já terem bebido meia garrafa de Vodka cada uma...chamam-me para me sentar na mesma mesa – e, eu, á rasca porque a minha mulher estava sempre a pau - mas clientes são clientes porra – dizia eu às vezes á minha mulher!...As mulheres são difíceis de entender!...
E, como dizia eu...sentava-me á mesa...passavam-me o braço por cima – a cabeça delas já mal a podiam segurar direita, encostavam-se ao meu ombro – (eu a pensar... encosta o tua cabecinha no meu ombro e chóóóra) – porra logo duas...dizia eu baixinho e… - “ Pivo Yést...eu gosta Mário! – - “Pivo niét...eu gosta Mário!... - diziam elas com “uma chiba...dos diabos!...
É que, o raio das mulheres, que já estavam c’os copos a dizerem estas coisas em vóz alta, enquanto que a minha mulher – que é ciumenta c’mo caraças - parecia fulminar-me com os olhos, olhando através do janêlo da cozinha!... As mulheres “são foda” e, algumas delas, até precisavam disso!...
Aqui, mais uma vez, quem não souber ser padre, não deve vestir a batina!...Que boa ideia era a gente ir guardando garrafas vazias de Vodka, Gim, Whisky, etc...daquilo que era comprado legalmente – quando havia!...Desta forma, ao começar a escassear no mercado ”livre” vinha o outro mercado!..
O importante era que fosse da mesma marca e qualidade!... Se não era um era outro que, após ter sido “namorado bem namorado”… encontro na rua – dentro do meu carro enquanto andou ou, dentro do deles, depois disso, se despejava da garrafa que ele me entregava, para a vazia que eu levava!... Não era às carradas mas...de grão a grão, enchia a galinha o Papo!...
Estamos ainda no “dinheiro proibido”!...
Ora bem, com disse antes, o tal Anatoli ou lá como é que se chamava...era um assíduo cliente da TABANCA e, chegado a ocasião da inauguração da agência da Aeroflot...ele falou comigo para fornecer a comida, etc. etc.!...Prometeu-me que me daria um Bilhete para Moscovo, com hotel e tudo pago para mim e minha mulher!... Não aceitei devido ao problema do “desquite” e, também, porque não tinha ninguém para me substituir, se acaso aceitasse!...
Então eu disse-lhe: - ‘Olha oh amigo Anatoli...tu sabes bem que tenho a minha filha em Portugal e que estes gaijos não permitem transferências em moeda forte (USD)!...Assim – continuei eu – se pudesses, eu forneço-te tudo e mais alguma coisa – incluindo o pessoal, faço-te um desconto, se me pagares com outra coisa menos pesos!..
- “Dâ…- disse ele...ao som do qual, o meu coração se riu até á quinta casa!...É que “Dâ” queria dizer sim, porque eu já tinha treinado isso antes!...
Não se falou mais no assunto!... Passou o dia da inauguração, apresento “o Bill” - a conta – e, após me chamar para a parte de trás do escritório para bebermos uma Vodka...entrega-me ali o valor total, sem desconto algum...$900 “gringos”, novinhos em folha!...
Ali, pensei, se não serão falsos? Não eram!
OK!... Quem não arrisca não petisca!... Saí dali mais contente que nem um alho!...
Entretanto, agora o problema era se me descobriam com aquela encomenda “proibida” por eles mas milagrosa para mim!...
Assim, voltando á rusga...enquanto eles rebuscavam tudo e mais alguma coisa, eu “rezava” – apesar de não ser lá muito virado a isso – que eles não me pedissem as chaves de abrir as máquinas “flíperes” que existiam na TABANCA!...Era ali que eu tinha os $900 macacos em notas de $100, dentro dum saco de plástico, dependurado por cima da portinha de serviço da máquina!...
Não se conseguiam ver logo assim á primeira!...Só apalpando!...
A ideia era tentar que passassem o controlo no aeroporto, na viajem que estava planeada para a minha mulher, para uns dias mais tarde!... Assim agarrei, comprei dois lombinhos de vaca, abri um e infiltrei as notas dentro de um deles!...Coloquei o outro lombinho em cima de modo a tapar o local do golpe. Tudo dentro doutro saco de plástico para congelar!...
Até aqui tudo bem!...
Mas, a carne também não era permitido sair!...
Nem carne, nem camarão nem fosse o que fosse comestível!... Bem, há que arriscar. Falei com um “aduaneiro” (eu sei que se diz guarda-fiscal) que bastas vezes já o tinha amaciado com qualquer coisa grátis, expliquei que tinha a minha filha em Portugal e que, não podendo mandar dinheiro, gostava de mandar um pouco de carne, uns camarões e pardais já despenados e tudo!...
- OK!... Leve-me isso tudo amanhã de manhã – dia de avião e dia da minha mulher viajar – bem cedo ao aeroporto, na secção da alfândega!...Nem dormi a pensar no assunto!...Ás 5 da manhã já eu lá estava!...Vem a hora de embarque...e o homem lá consegue entregar a encomenda á minha mulher, já dentro do avião!...Assim que...quem não arrisca não petisca!...
E, aqui, neste ponto, ainda recordo que, uma vez que tive a oportunidade de viajar – estava eu na Embaixada dos EUA e, o chefe, mandou-me a Lisboa a comprar toda uma série de produtos (a mulher dele era de Lisboa) e, como dizia, o mesmo sujeito infiltrou-me uma caixa térmica com 12 saquinhos de quilo com camarão grandote, uns 15 saquinhos de pardais já todos despenados e mais alguns lombinhos de carne. Chegado a Lisboa, era proibido entrar com aquilo e, eu vou directo ao local onde se declarara tudo. Aí chegado, enfrento o oficial de serviço.
Pergunta...- “O que é que leva aí”? – “Oh chefe... disse eu...se quiser abrir abra mas, para que saiba, o que vai aí é tudo para a família porque não é possível trazer dinheiro e, se abrir, vai encarar logo no cimo de tudo, com um saco de camarão destinado ao guarda-fiscal de serviço no aeroporto”... - e, continuei... - ”se não quiser abrir pode ir a esta morada (préviamente já num papel) que lá estará á sua espera o saquinho!...
Sabem uma coisa? Á noite, foi mais um a petiscar pardais...porque o homem apareceu lá!...
Entretanto, como menciono acima, a um certo ponto tenho um enfrentamento com “uma batata podre” sobre por “dar cá aquela palha”!...
A coisa foi...a pessoa aproxima-se e, eu, educadamente perguntei... –“ O que é que o senhor deseja? E, como resposta... recebo...- “O senhor nããããão - com o não carregado – “camarada”…é como me deve chamar”!...
- “Oh raio...temos baile sem música”, pensei eu!... E, retorquindo disse... –“desculpe lá mas, para mim, os clientes merecem-me muito respeito e, como tal, trato-os por senhores porque “cama-radas” são aqueles que são da mesma igualha!... (nada pessoal nem político).
Oh diabo!... A batata podre, não gostou e chama a polícia!... A Polícia vem e leva-me para o Comando Geral!...Espero e, vem o chefe Embaló, aquele que refiro antes, que encontrei no Aeroporto de Lisboa!...
Baixinho diz-me!... – Oh Senhor Mário (não camarada) custa-lhe alguma coisa dobrar a língua e dizer camarada, para estes gaijos não estarem a chatear?
- “Claro que custa”!... – disse eu...num tom alterado. - “Xiu, fale baixo, porque se aquele além ouve, pode metê-lo lá dentro”... - “ Olhe o Embaló...disse eu, “até agora, eu não vejo nada que justifique que alguém me meta lá dentro (na prisa) mas...se isso acontecer...eu arranjarei os motivos antes de trespassar aquela porta!...A ideia era virar-ma a quem quer que fosse antes de entrar!... A partir dali, já tinham motivos!...
Após mediação de alguns polícias que me conheciam com a batata podre...lá me deixaram ir embora!... Logo em seguida...vem outra `batata podre” a implicar comigo quando, ao pedir a conta – logo a seguir á colocação em vigor da nova meada – o Peso!...
Assim, para que se procedesse á troca da moeda antiga – ainda em vigor – pela nova moeda – foi anunciado não sei por que meio que, quem tivesse escudos do BNU – ainda hoje tenho – deveria de o trocar no Banco Central até á data xis!...
Só que, só falaram nas notas e não nas moedas!...
Assim, as moedas até 20$00, continuaram a ser escudos!...
Ora, tenho que reconhecer que eu poderia vergar e não ser tão impertinente mas...o facto foi que, a minha resposta foi sem segundo sentido, quando respondi á pergunta de mais uma “batata podre” quando me perguntou quanto era a conta!...
Ora...se a conta era cerca de 18$00...eu disse...exactamente isso!... - “Dezoito escudos”...
- Oh raio”... – “Dezoito escudos nããããão...Dezoito pêêêêsos”... – diz a batata podre. Novamente o não e os pesos bem acentuado, de um modo provocativo!...
Ora, como realmente nas moedas estava escrito “escudos”... agarro numa moeda e ponha-la em frente do nariz e pergunto-lhe se ele sabia ler!...Se sabia... que me dissesse o que é que lá estava escrito!...Chamou a polícia e a história repetiu-se!...Fiz a mesma pergunta á polícia e, claro, contra factos, não há – ou não deve haver – argumentos!...
Não houve!...
Nada se passou e, felizmente que, até ao dia de hoje, quase com 67 primaveras, nem uma hora estive na “choupa”!... Sorte ou razão... é um facto!... Comecei a ficar cansado daquilo tudo!...
Estamos a 17 de Outubro de um dos anos a seguir á Independência !...
Os militares Soviéticos vão celebrar a data acima, como é normal fazerem!... Mas, como alguns deles, através de elementos da Embaixada, também visitavam A TABANCA, pediram-me se o meu pessoal podia assistir no serviço e, ao mesmo tempo, com fornecimento de alguma comida
confeccionada na TABANA – embora não na totalidade!...
Assim foi!... Pela primeira vez visitei a BA-12, após a Independência!...Confesso que senti uma certa emoção mas, como trabalho é trabalho, mãos á obra e toca a organizar tudo para o banquete que se avizinhava, em celebração do 17 de Outubro!...
E, já após toda a gente estar a dar á dica...eu ia caminhado de lado para lado – de mesa para mesa – para inspeccionar se tudo estava bem e, á mediada que ia passando por detrás das cadeiras... um ou outro ou uma ou outar Soviéts...acenava a mão, para que me baixasse do lado detrás da cadeira deles e...bumba…uma vodka, e mais uma e outra e outra...
Saí de lá quase às caldeirinhas!... No outro dia, além da dor de cabeça, tive que aturar a minha mulher a resmungar todo o dia!...
Porra...já um homem não pode estar doente!...
Estamos em 1976-77
Francamente falando, creio que foi mais ou menos nesta ocasião, que o episódio do vinho Grão Vasco teve lugar e, com tudo isto e mais ainda, apesar de ter conseguido navegar até ali, naquela turbulência, o certo é que comecei a ficar cansado de tudo aquilo!...Se não era uma coisa era a outra e, como tal, pensei em encerrar A TABANCA e regressar a Portugal o que englobaria a minha mulher deixar de trabalhar para o Embaixador Americano.
Claro, ali, perante essa possibilidade, ele pergunto á minha mulher quais eram os motivos que me levavam a tal decisão!...Comunicados os mesmos...ele propôs-me que encerrasse o restaurante – para evitar enfrentamentos directos com “batatas podres” – frase minha e não dele – e que, logo que o fizesse - encerrar – me daria um lugar na chancelaria!...
Assim fiz!... Encerrei, embora continuasse com tudo activo – renda, alvará etc.!...
Entrei ao serviço dos Americanos e, enquanto lá, uma série de episódios se passaram devido a que, eu continuava com o alvará em dia...mas não aberto ao “PÚBLICO”!...
Nada nem ninguém, que eu soubesse até ali, me poderia proibir de fazer uma festa de Catering...
onde quer que fosse, mesmo que fosse no meio da floresta ou no meio do rio...usando as
instalações do local que eu pagava renda, licença e impostos sobre a mesma, na confecção daquilo que fosse...sem necessidade de estar a enfrentar energúmenos no dia-a-dia!...
Queriam á força que aceitasse fazer um jantar no local!...
- “Não!... Se quiserem, o meu pessoal prepara e leva aonde for...mas lá na TABANCA nunca!...
“As batatas podres” metiam-se comigo por tudo e por nada!... Acusavam-me de que os americanos me forneciam mercadoria ilegal etc., etc.!... Mesmo que isso sucedesse, aonde estavam as provas?
De suposições está o inferno cheio!...
Aqui, acima, nestas fotos, em Quinhamel, num pequenique, ainda ntes de estar na embaixada amricana, na presença de uma pessoa extraordinária – á direita na foto da direita, o Sr. Júlio Correia, Portugûes até á quinta casa, narural de Goa... vindo de Angola com o aval do governo dos EUA, era uma companhia constante no dia a dia!...
Apareceu de visita uma fragata americana e, o Embaixador pediu-me para fornecer uns tanto leitões, uma carrada de ostras recheadas, galinhas etc. etc.!... Parte da tripulação quis jogar basquetebol com uma equipa local. Depois quiseram fazer um piquenique e perguntaram-me se eu sabia um bom local!... Claro que sim... e para aqueles que tiveram a oportunidade de
conhecer, sugeri-lhes a “Ponta Neto”, uma propriedade muito bonita, com muitos ananases e cana-de-açúcar onde tinha sido construído um bar com colmo e “tabanquinhas” á volta de um recinto acimentado, que dava para bailes etc etc.!...Bonito aquilo!...
Levo-os lá para pedir autorização mas o portão estava encerrado!... O Zé Neto tinha ido para Portugal e o Governo tinha tomado conta daquilo. Mais propriamente dito, o Comité da Cidade de Bissau – diria como que a Câmara Municipal, cujo presidente era Juvêncio Gomes!...
Boa gente!... Ele, claro!...
Vou lá pedir autorização e, mal virei costas, os gaijos americanos saltam lá para dentro e, não sei como, conseguiram abrir o portão!...Quando lá chego de volta, já lá estavam dentro!.. Mais uma vez “umas batatas podres” me acusaram a mim de incentivar os gaijos a saltar... quando, na verdade, eu tinha ido a pedir autorização!... Uma cambada de ursos!...Teve que o Embaixador interferir em minha defesa!...
Um ponto a aclarar! O Comité da cidade de Bissau (Câmara) tomou conta de alguns locais recreativos, restaurante, etc.!... A um ponto, convidam-me para que eu fosse o Director geral de todos os locais debaixo do controle deles. Incluía um projecto, sugerido por mim, de se ficar com uma Granja de um português onde, pela venda que estava a ser negociada, eu receberia algum lá no outro lado.
Pelo menos assim o esperava!...
A ideia da “granja”, era para criação de leitões, frangos,- ovos, hortaliças, etc. etc, para consumo da rede de bares e restaurantes previstos, debaixo do meu controle!...
Propõe darem-me carro para me deslocar, casa e tudo, e que a TABANCA fizesse parte – grátis – sem ma comprarem. Propuseram-me como salário 25.000$00 em Portugal e 50.000 pesos na Guiné. Disse-lhes que tinha que ser ao contrário 50.000$00 em Portugal e 25.000 ali. E que, uma vez que eu entregaria a TABANCA para fazer parte, eles faziam-se responsáveis das letras bancárias que ainda estivessem por pagar!...Não aceitaram a minha proposta e eu não aceitei a deles!...
Foi o começo do fim!... Ganas já não me faltavam.
Estamos em Maio de 1981!...
Chega a Bissau um navio sismográfico Americano. Os cabecilhas visitam a Embaixada e o
embaixador diz-me para eu dar “um tour” pela cidade aos “nossos amigos do barco” disse ele!...
O que queriam era “putas e vinho verde”!...Bem...putas talvez mas …vinho verde – entenda-se cerveja – é que era mais difícil!...Lá descobri onde havia – 24 de Setembro, ex- messe de Oficiais do Exército, junto ao QG!...
Lá fomos, conduzindo um Land Rover. Pelo caminho de ida ou de regresso, perguntam-me quanto eu ganhava na Embaixada. $410 USD pagos em Portugal. Dizem-me que isso poderia eu ganhar numa semana nos EUA. Perguntam se quero trabalhar no navio como cozinheiro cujo ordenado era 1.200 Dólares base, mais 25% de bónus de mar e mais 20% sempre e quando o navio andasse a fazer trabalho sonoro (saber a que profundidade estava o solo marítimo).
Ora bem!... Foi uma decisão muito difícil porque a minha mulher estava lá comigo!... Mas, ao mesmo tempo, como estava lá também uma irmã dela...também a trabalhar na EmbUSA, não pensei que seria tão traumatizante para a minha mulher.
Foi e bastante!...
Aconteceu que, como havia já dois anos que eu não tinha tirado férias, tinha acumulado dois meses. Decidi arriscar e fui para o navio a trabalhar mas em férias pela Embaixada. Eram o valor de 4-5 salários que estava em causa!...Para entrar no navio – sair da Guiné – apresentei uma carta da Embaixada em conforme ia em serviço oficial!... Assim, saí da Guiné directo a Dakar!...
Ia vomitando as tripas de enjoo-o!...Raios partam aquilo!...
Chegado a Dakar, saímos p’ró fado!... Ali, ao contrário de Bissau, cerveja a montes e dores de cabeça a montes no outro dia!...
O navio abasteceu-se de tudo e...com uma “asa derreada” (só um motor é que trabalhava) lá vai mar fora...com perspectivas de ir para os Estaleiros de Viana do Castelo, local onde eu trabalhei antes de ir para a tropa!... Entusiasmado á brava...lá íamos chegando á costa portuguesa.
Notícias contrárias que, devido às greves em Portugal, não havia garantias de se conseguir reparar o navio a tempo e a horas. Resultado? Rio Tamisa nos arredores de Londres – Greenwich ou coisa parecida!... Um frio de rachar e eu em calções!...
Um mês e 13 dias ali. O meu passaporte está a caducar e, como tal, toca a ir Londres ao Consulado Português a renová-lo. Estão as férias pela embaixada a terminar. – “É hora de decisão, Mário…
- diz-me o chefe do navio!... - “Queres continuar connosco ou regressar a Bissau”?
O contracto era. Dois meses de serviço, um mês e férias, viagens pagas até ao local de saída!...
Respondi que, - “se vocês quiserem que continue, eu fico”!... –“ Então assina aqui a resignar ao trabalho da Embaixada! Assinei e enviaram por fax ou telex!
Navio está pronto, zarpa para o Norte da Holanda. Terminado o trabalho naquele local, e com isto estão passados 3 meses!... Dão-me dois bilhetes de avião. Amesterdão-Lisboa-Lisboa-Bissau e um bilhete de comboio até Amesterdão!...Chego a Lisboa...assisto a um baptizado de uma sobrinha, pego na minha filha que já estava de férias da escola e toca a andar - voar -para Bissau.
Previamente, tinha sido informado pela minha mulher que não fosse porque se constava lá que eu seria preso ao chegar ao aeroporto!...Mais uma vez, eu não via o motivo para tal.
Desta forma, agarrei em 200.000$00, com a ideia de, se algo me sucedesse, a minha mulher
poder contractar um advogado!...Dei-os á minha filha para guardar!...Contei-lhe o que se passava e disse-lhe para não ter medo, porque eu não tinha feito nada mal!... E, disse-lhe também, se alguém se aproximasse de mim no aeroporto – policia ou militar – que gritasse pela mãe que estaria lá fora á espera!... Mais uma vez, não vendo o motivo até ali, tinha intenção de o arranjar ali mesmo. Morresse o homem, ficasse a fama!...
Naquela ocasião, u ainda dava uma cambalhota no ar e até tinha andado no “judo” em Bissau.
Hoje...nem no ar nem no colchão!...Nada sucedeu!...
Agarrei...disse á mulher para se despedir!... Foi uma semana muito sentimental...com a notícia propagada a muitos dos meus ex-empregados!... Fizemos montinhos e mais montinhos de roupas, louça, mobília, porta aberta á espera que, agora um agora outro aparecessem para levarem a última- ma lembrança física porque a outra, ainda hoje está cá dentro!...Mulheres do camarão, das ostras, do carvão, do peixe, homens da carne...enfim, foi muito emotivo. E no dia de embarque definitivo...um montão a chorar no aeroporto!...Menti-lhes para os sossegar, dizendo que iria voltar.
Eles sabiam que não e eu também!...
Chegamos a Lisboa e, como estava de férias pelo navio (um mês e meio) tranquilamente fomos para o Alcaide, minha terra a aguardar comunicação para regressar ao navio. Chega a mesma e, arranco directo a Londres onde a “migra” não me deixava entrar porque eu não tinha visto!... Explico que ia para a Escócia – Aberdeen – onde se encontrava o navio e, após perder o avião inicial, lá me deixaram seguir e arranjaram um voo para lá. Vou para um hotel e, às 3-4 da manhã toca a arrancar de helicóptero a aterrar (?) na plataforma do navio no alto mar!...
Uma autêntica aventura…tal como eu gostava!...
Termina o trabalho lá na costa Escocesa e o navio sai para sul da Inglaterra. Dai…saí para os EUA
onde chego sem visto. Dão-me uma carta, viagens pagas, para que fosse a Lisboa ao consulado americano a pedir um visto de regresso. Chego a Lisboa, munido daquela carta para que me dessem o visto!...
Frente ao Cônsul Americano... ele, num português roufenho...diz-me. Oh senhorr Márrio...nóje, não prrecisamos de cocinheirros porrtuguesses, na amérrica!...
Olhem... interiormente, se não o mandei p’ró carálho mandei-o p’rá da tia dele!... E, exteriormente disse... – Oh Sr. Cônsul, mas eu resignei ao meu emprego que tinha lá na vossa Embaixada em Bissau, na promessa de trabalho feita num navio vosso?
- “Pois é...diz o tipo -, “mas noje não temos nada a verr com o facto do Senhorr Márrio terr
resigrrnado ao seu trraballo!... -“Puta que o pariu”...disse eu entre dentes.
- “Então, se não prrecisam de cocinheirros porrtuguêses lá na amérrica” – estive mesmo para lhe perguntar – “porrque é que a comida dos cocinheirros amerricanos é uma porrcarria”?
Mas, como o ano já estava mais que ganho...decidi relaxar, eu e a minha mulher até que respondi a um anúncio publicado no Diário de Notícias!...
Duas semanas mais tarde estou de frente para o mesmo Cônsul, a rir-me dele, com uma carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, a solicitar um Visto “quasi-diplomata” (não era) ao que o tipo nem sequer pestanejou!... Era para a Embaixada Portuguesa em Washington!...
A minha mulher como cozinheira do Embaixador e eu…como “Mordomo”!...
Não gostei!...
Voltando ao Cônsul, aqui, para nós, e por experiência própria, em certas coisas há que “untar” os bolsos destes tipos!...Passou-se comigo, a querer ajudar um amigo, na mesma Embaixada!...Creio que até era o mesmo Cônsul!...
“Duzentos contos” entregou o meu amigo – pedreiro – que só não recebeu o visto porque declarou que trabalhava nuns escritórios de um advogado – cunhado dele!... Ali, frente ao Cônsul... diz este
- oh senhorr Gerrtrrudes (Gertrudes) como posso eu acrreditarr que o senhorr trraballa parra um advogadú...com exas mãojes todajes “grretadas” do ximento?...
É que até era inverno e, o bruto do meu amigo, não usou luvas, tal como eu lhe tinha dito!...Teve sorte, devolveram-lhe a massa!...
O resto é história e, francamente, poderá vir a dar para contar mais tarde. Incluindo, alguns
comentários já estão feitos nas páginas do meu primeiro livro!... Agora, qualquer outra coisa que os amigos da Tertúlia queiram saber...que sejam específicos no que seja. Se souber, com muito gosto responderei!...
Um abraço.
Mário.