quinta-feira, 25 de março de 2010

CCAÇ 1419 - BISSAU - MANSOA - BISSORÁ . OLOSSATO - PONTE MAQUÉ - MANSABÁ



          

25de Março de 1966 








O SOLDADO ATIR. INFANT. ANTÓNIO DA SILVA PINHEIRO avançava devagar, de mãos levantadas segurando a G3 acima da cabeça, em tronco nu, (para se ver que era branco...), a sentinela no posto, junto da porta de armas estava vigilante, . . . "e como num filme, voltou ao princípio". . .O Alf. Rolando Stock havia desafiado os elementos da companhia para formar um grupo de combate  de voluntários. E vinte e sete homens disseram, presente! Submeteram - se a uma adicional e dura instrução especial, e o Pinheiro que se havia oferecido como voluntário, também fazia parte dos denominados Comandos Assassinos de Bissorá. Eram a elite da companhia.
E nessa sexta - feira 
25 de Março de 1966 pela 17,00 horas  quando regressavam extenuados de uma patrulha  de intervenção e reconhecimento, progredindo atentos com passada segura e devidamente distanciados, o "Barrabás" sentindo uma súbita "necessidade", resolveu  logo ali satisfazer a mesma, para isso arreou o cinto com as cartucheiras e granadas, e zás! Só que, azar dos azares,.......emboscada! A 5 Km do quartel, o inimigo à espreita e à distancia, só com armas ligeiras, atacava. (faziam esta acção amiúde para provocar e marcar terreno). . . Restolho de militares procurando abrigo e posição. Tiros IN de Costureirinha, Klasch e Simonov misturados com os insultos habituais..... abaixo o Salazar! ... ide p'ra vossa terra!..etc. Os rapazes responderam de pronto, com bom caudal de fogo, e retribuição de insultos. Foi rápido. O inimigo debandou e em continuo encetaram o regresso até à ponte para Barro que o PAIGC havia destruído. Na outra margem uma força e viaturas esperavam, para os transportar ao quartel. Bissorã era já ali.
Mal chegados ao quartel o "Barrabás" desolado deu falta do cinturão com as cartucheiras... « T'ás perdido.» Rosnou um camarada. « Vão levar - te a conselho de guerra » Atirou outro. «E quando o Alferes Mosca souber » Finalizou um camarada mais chegado. O nosso "Barrabás" estava mudo, verde, derrotado. Ouve -se uma voz; - vamos lá buscar essas malditas cartucheiras, os carregadores, tudo!.. Ouviram - se 6 vozes quase em uníssono, já com o Pinheiro incluído. 
O Barrabás, esse já tinha que chegasse,ficou.
Num repente, de Unimog, armados com armas ligeiras e cheios de coragem, mas com todos os cuidados pois o IN andava por ali!... chegaram à ponte destruída .Daí para frente é a pé que chegam rapidamente ao local da "necessidade" Surpresa!... Está tudo remexido e espalhado, as balas retiradas dos carregadores semeadas por todo lado. Intuitivamente apontaram as armas em volta, para um inimigo que não viam. Desconfiados, enquanto uns vigiavam, os restantes trocavam impressões;  - «Vamos  recolher o material » « Pode estar armadilhado » - «Parte -se um arbusto e faz -se uma vara » Deitados no chão inspeccionaram com cuidado os objectos. - «Uff  Que alivio, nada » Recolheram o material e há que regressar a "casa" que se faz tarde!..Nem duzentos metros andados ,outra vez uma saraivada de disparos de "costureirinha" e simonov e os mesmos insultos. Embora em numero reduzido os nosso heróis ripostaram com a valentia que lhes era reconhecida...- « Debandaram » Há que arrepiar caminho antes que venham outra vez.
Rapidamente retiraram para a ponte, onde do outro lado do rio esperava a viatura e o condutor. O Pinheiro fechava a retirada,  de arma em riste,  dedo no gatilho perscrutando a mata cerrada à  retaguarda, parecia a todo o momento ver vultos e sussurros de vozes, era tanto o empenho , que quando voltou a olhar para a frente,Nada !... Só árvores e um pequeno trilho,e ainda pior, uma bifurcação, "dois caminhos".Não deu para escolher, tomou o da esquerda e em marcha acelerada rodopiando de arma sempre em riste sentiu-se momentaneamente perdido e distante do objectivo. tudo ficou mais escuro; o coração pulava  a cabeça latejava e correu ,correu, até que esbarrou com o rio, e lá ao longe a ponte destruída e o Unimog que corria célere para o quartel. Animou. Meteu - se ao rio que atravessou. Tudo agora era mais claro, mas continuava a rodar de arma em riste. Já não havia sons estranhos no mato,o coração desacelerava - O quartel o arame farpado, o sentinela, e agora ali, - em tronco nu, arma atravessada, bem erguida sob a cabeça. Prova final. Entrar no quartel sem levar um tiro.
OS HERÓIS TAMBÉM TÊM MEDO 
fotos; espólio de António da Silva Pinheiro, autor do relato.

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