terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

GUINÉ - OPERAÇÃO MABECOS 22 DE FEVEREIRO DE 1971

PICHE  GUINÉ - ZONA LESTE - VISTA DE SUDESTE - PARCIAL DO AQUARTELAMENTO
OPERAÇÃO MABECOS 
SEGUNDA - FEIRA 22 DE FEVEREIRO DE 1971
- Ordem de operações nº 1, de 21 Fev. 1971 - Composição das forças: 1º - 2º - 3º - 4º PEL/ C.ART 3332. 3º e 4º PEL/CCAV 2749 ( BCAV 2922). Duas secções de milícias 249. Uma Secção de milícias 246, com Morteiro 60, e 30 granadas. Uma Secção Morteiro 81, 30 granadas.Artilharia Pesada: 4 Obus 11,4 com 160 Granadas, 2 Obus 14, com 100, 3 Obus 14 com 120 , e duas WHITE PEL/REC 2. 
- Objectivo. Posicionar - se próximo da fronteira, Rio Campa, Junto ao Corubal e bombardear posições IN na região de Foulamory (Guiné Conacri). 
Mas,ia ser um dia muito negro e amargo, para estes bravos guerreiros.
Nesse dia, depois de ir para o mato, incorporado no 1º G.C. CART 3332 numa manobra de despiste, integrada nos planos da operação Mabecos. Regressei. Almocei e, já na caserna pequena, (CSS da CART 3332 ) junto à piscina, ouvi rebentamentos dentro do aquartelamento.Com outros camaradas, saltei para a vala e, só depois deste impulso e ouvindo gritos e pessoas a correr, é que admiti que era de facto um acidente. Aproximei - me da caserna onde já estavam vários camaradas a prestar socorro e, por entre fumo, gritos, e destruição, reparei à entrada, no chão... uma bota com um pé calçado com parte da perna,Um camarada ensanguentado e esbaforido, sai para o exterior sem uma perna. No interior, havia gritos de dor e vultos tombados. Enfermeiros e outros que ali se encontravam pediram para retirar, e assim fiz. Saí dali consternado com o cenário, e como se deve imaginar completamente destroçado com a "derrota" e, sofrimento daquelas vitimas, do 4º Pelotão da Companhia de Cavalaria 2749 ( Bat, 2922). Este, estava nesse dia, destacado para participar na Operação "Mabecos". O seu comandante, alferes Atir. Cav. Luís Alberto Andrade, estava impossibilitado de chefiar, em virtude, de uma lesão num joelho, substitui - o o furriel Atir Cav.Carlos Alberto Carvalho,que havia saído da caserna segundos antes, após distribuir rações de combate e saber da operacionalidade da força...Sorte?!. As "sortes" e o azar estavam lançados.

 Regresso dos guerreiros a casa (Piche). Empoeirados e tristes e com sede de vingança. A missão "soube" a derrota

A Operação Mabecos que tinha começado de manhã às 6:00. Ia ser executada mesmo já atrasada na hora prevista. A força pôs -se em movimento: 1º - 2º - 3º - 4º PEL/ C.ART 3332.  3º e 4º PEL/CCAV 2749 ( BCAV 2922). Duas secções de milícias, 249. Uma Secção de milícias, 246, com Morteiro 60 e 30 granadas. Uma Secção Morteiro 81, 30 granadas. Artilharia Pesada: 4 Obus 11,4 com 160 Granadas, 2 Obus 14, com 100, 3 Obus 14 com 120 , e duas WHITE, PEL.E. REC.

PICHE rio Campa 22 02 71 Operação Mabecos.10 segundos antes da emboscada.O 4º pelotão abrigou -se na mata à direita onde estava postado, 

 - Conforme o previsto. Rumaram ao objectivo. Já próximos. Os "Piras do 3º G.C CART 3332 passam para a testa da Coluna. E são vislumbrados à distancia negros fardados. Uma consulta rápida para saber se ali havia segurança das nossa tropa... - Não havia... - Há que flanquear, a progressão das tropas.Em continuo e, mal entrados no mato...O IN,tenta o assalto.Abre-se a emboscada,que de inesperada e traiçoeira e olhos nos olhos,é sufocante e tremenda. Há que se posicionar fazendo um recuo para se entrincheirar.

Bombardeamento matinal, após uma noite dramática, entre nevoeiro, pó e fumo, à posição Foulamori (Guiné Conacri)

Metralha Intensa e violenta.Explosões que surpreendem, com fumo e pó que cegam .Tentativa de avanço do IN. Os "piras" do 3º G. C. CART 3332, defendem, ripostando, como podem a posição.Uma White cai numa cova e fica imobilizada: a metralhadora encrava.A segunda White fica inoperacional, sem ter dado um tiro (.). Há Unimogues semi destruídos. Feridos: alguns, com gravidade. O resto da força tinha ficado fora da linha de fogo. A 1ª secção do 3º G .C já havia pago a factura: 3 mortos e um capturado em virtude da execução do flanqueamento. Anoitecia. O inimigo não abrandava a intensidade do fogo. Os nossos homens ripostavam. Entretanto os homens da Artilharia Pesada, desengatam as peças de obus das berlliets e de imediato fazem tiro directo, sobre as copas das arvores em direcção à posição Inimiga. E silenciam - na, com mais munições. A noite vai ser terrivelmente dramática. O inimigo "manhoso", vai se aproximar, silencioso, para não ser alvejado. Vai ter oportunidade de assaltar e vandalizar os corpos feridos e, já mortos, do: 1º Cabo Costa e, dos soldados: Mota e Araújo. Os obuses batem a zona mais próxima com tiro tenso...  No terreno os combatentes em trincheiras feitas com as mãos e facas do mato não dormem. A manhã que tarda, sabe a poeira, pólvora, e a uma sensação estranha, que só quem viveu a guerra olhos nos olhos, sente. Para todos, era a segunda vez em menos de 15 dias. E ainda havia a lamentável e, dolorosa surpresa. Ninguém sabia, a já contada aqui.... Morte dos nossos 3 heróis e, o desaparecimento do 1º Cabo Fortunato. Surpresos, não queriam acreditar.Na acção de recuo posicional e, porque já de noite, não fora dada a falta destes elementos. Assim, era de espanto e derrota o semblante "negro"dos nossos heróis periquitos que juravam vingança....


Obuses, no dia 23 de Fevereiro, no regresso. O cenário é da emboscada no dia anterior


Fotos de alferes ATIR ART JORGE CARNEIRO PINTO CART 3332 GUINÉ 1970 - 1972.
Aquartelamento:(Foto): de 1º Cabo Sebastião Soares Fernandes do 3º  G C  CART 3332: 
Relato de 1º Cabo TRMS INFANT Eduardo Lopes  CART 3332 GUINÉ 1970 -1972

5 comentários:

manuel aldeias disse...

Relato empolgante de uma operação na Guiné.
Muito bem descrito, aguardo o seu seguimento.
http://manuelaldeias.blogspot.com

António Rodrigues disse...

Caro Eduardo!

A minha guerra foi dura mas a vossa não o foi menos.
Palavras para quê?
As nossas vidas foram muito difíceis e os nossos sacrifícios só os compreende quem como nós os viveu por dentro.
Paz às almas desses Heróis.
António Rodrigues
Soldado Condutor da 1ª. BCAV 8323
Pirada Bajocunda e Copá 1973 1974
Guiné

eduardotlopes disse...

Rodrigues na verdade, assim é.
Só na realidade, e como tudo na vida, quem passa por elas é que sabe dar o devido valor e sentimento.
fico grato aos vossos dois comentários: do Manuel Aldeias e o teu ( quanto a nós felizmente vamos-nos encontrando, amiúde e recontando as nossas vidas de guerra. Fico feliz pela tua publicação sobre a reposição da verdade sobre Cópa. E tens o blogue à tua inteira disposição assim como os restantes amigos.
para todos um enorme abraço.
Eduardo Teixeira Lopes
1ºcabo TRMS
CART 3332
Guiné 1970-1972
(Visionamentos de páginas até à data.22327)

DRobalo disse...

Olá camarada(s).
Ontem, 24-10-2011, vi na SIC as declarações de camaradas de guerra da Guiné, entre os quais o "Duarte Dias Fortunato" feito prisioneiro durante a "Operação Mabecos"/Piche Fev de 1971. Vi com emoção, porquanto fiz parte dessa operação com Furriel de Artilharia do GAC7/Bissau. Estavamos em semana de carnaval. A emboscada foi ao fim da tarde, desencadeada com fogo muito forte. Lembro-me de haver referência à existência de soldados cubanos nas forças que nos atacaram. A minha posição na coluna era na rectaguarda, numa "berliet" com um obus 14. Noutra viatura, na retaguarda da minha ía o Alferes "Sá Viana Rebelo" (sobrinho o Ministro do exército). Com o decorrer do tempo parecia que o fogo era cada mais intenso.Daqui resultou que, ordenei aos meus soldados que instalassem o obus 14 em posição de fogo. Creio que 5 minutos depois, estavam no ar as primeiras granadas do obus 14. Passados momentos aparece o Capitão Osório, também do GAC7, apoiando a decisão tomada. Passados 2 ou 3 minutos, o fogo do inimigo cessou. Todavia, as noticias não eram agradaveis porque, no pelotão que estava na frente havia baixas e na manhâ seguinte havia a confirmação de um desaparecido, a do "Duarte Fortunato. Naquela mesma área, a artilharia tomou posição e durante toda a noite efectuaram-se bombardeamentos. Já não me recordo muito bem, mas creio que o número de bocas de fogo era superior ao que vi referido. O erro desta operação foi a demora na reunião da logistica bélica, porque estivemos em Piche alguns dias com movimentações anormais, o que despertou a curiosidade da população e consequentemente a organização do inimigo. De certo modo, lembro-me que havia a expectativa de haver condições para uma emboscada, que se verificou.Lembro-me, também do acidente, na caserna com uma basuka. O pessoal já saíu para uma operação completamente desmoralizada e entrestecida. Um abraço, porque estou comovido. Domingos Robalo, ex Furriel Miliciano Nº 192618/68, do GAC7/Bissau.

eduardotlopes disse...

"Um abraço, porque estou comovido. Domingos Robalo, ex Furriel Miliciano Nº 192618/68, do GAC7/Bissau".
Domingos
Também acabei por ficar comovido com o seu relato que estimo e, agradeço, e que pelo seu conteúdo é subsidio de muito valor para o conhecimento total da Operação e enriquecimento da nossa história e notoriedade do nosso Blogue.
Participei na Operação Mabecos de maneira diferente.Como TRMS na operacionalidade, passei duas ou três vezes integrado em acções pela Pista de Aviação e, ali, do lado esquerdo, no Campo de Futebol,lá estavam alinhadas as 9 bocas de fogo. No dia da Operação Mabecos fui escalado para saída às 6:00 (+/-). e não deixei de referenciar a imponência das peças alinhadas,e, lá segui em direcção ao Rio Corubal com o 1º grupo de Comb. da CART 3332 à zona de Sutocó para que capinando uma área considerável de mato e árvores intuísse o IN que seria dali a base de fogos. Regressamos ao aquartelamento pelo meio-dia, extenuados, com missão cumprida.Para mim as acções para esse dia estavam realizadas. Uma escala de quase 12 operadores de rádio quase que que me garantia esse direito.
Mas era um dia de raiva, já contado
na história que emotivamente, acima escrevi.
Ainda no aquartelamento,aquando dos rebentamentos,ficamos apreensivos e ansiosos,fui até ao posto de rádio. onde os operadores "lutavam" contra electricidade estática que nos deixou sem comunicação. Pela noite adentro eram os bombardeamentos dos vossos obuses que nos iam contando as horas à espera do início do dia, que já com boas condições de sinal,afinal,sabermos que havia três baixas: Cabo,Costa e os Solds. Arújo e Simplício ( este natural de Atei, Mondim de Basto, por quem tinha um grande amizade.Que somadas com a três do CCAV 2749 e o desaparecimento do Fortunato, tornavam a manhã radiosa de sol, um inferno negro.
Tive a coragem de estar presente quando chegaram as viaturas e nas três mortalhas de Ponches camuflados, não consegui verter uma lágrima, a raiva e o desejo de vingança não deixou. Mais tarde fui beber ( não era meu hábito) perdi as estribeiras, ainda andei à pancada sem razão.Passou - me. Nunca mais bebi Whisky ou outras bebidas alcoólicas até ao fim da comissão, e como TRMS sempre que saia para o mato, além da pistola, levava a G3, dois pares de cartucheiras, 4 granadas,faca do mato, o respectivo Racal, e rações de combate se fosse caso de Operação. Voltamos a ter uma emboscada fatal, mas não estive lá. Será hoje, dia 26 de Outubro, motivo de uma nova edição, aqui no nosso Blogue.
Estou- lhe particularmente grato por se ter apresentado e, pelo oportuno artigo da nossa história que muito me sensibilizou levando -,me de volta a Fevereiro de 1971.
Bem Haja
Disponha do blogue sempre que desejar. Grande abraço.
Saudações Artilheiras
Eduardo Teixeira Lopes
CART 3332 GUINÉ 1970- 1972